Charles Bradley: Vettel não mudou; percepção sobre ele, sim
Sebastian Vettel é um personagem mais amigável agora que ele vence corridas pela Ferrari quando comparado com os tempos de Red Bull? Para Charles Bradley, o que mudou foi a percepção sobre o piloto, não o germânico
Noutro dia, tive uma discussão com um amigo que trabalha comigo – bem, vamos chamar isso de uma conversa franca, que começou com pontos de vista distintos, até que concordamos com o ponto de vista que eu apresentara. O assunto em questão era ‘Sebastian Vettel como piloto da Ferrari’ versus ‘Sebastian Vettel enquanto piloto da Red Bull’.
O argumento dele era que ele nunca ligara muito para o 'Vettel/Red Bull', mas 'Vettel/Ferrari' o agradava muito mais – até aqui, tudo bem. Mas quando eu perguntei o porquê da mudança de opinião, ele alegou que Seb mudou drasticamente e se tornou muito mais amigável e divertido desde sua mudança para o time de Maranello.
Esse não era o meu ponto. Para mim, ele segue sendo o mesmo Sebastian Vettel de sempre - a variável neste caso, eu disse, foi a mudança de visão do meu amigo em relação ao alemão.
Meu amigo então argumentou que Vettel era um personagem arrogante e antipático na Red Bull. Eu respondi dizendo que a única coisa em que Vettel realmente "errou" enquanto estava na Red Bull foi na história do ‘Multi-21’, no GP da Malásia de 2013 – na época, pareceu uma decisão tomada no calor do momento, em que ele deixou o lado tirano falar mais alto.
Após um período de aparente vergonha e um pedido de desculpas para a equipe, acabamos descobrindo que ele tinha feito isso de propósito - para se vingar de Mark Webber, que havia ‘fechado a porta’ para ele no ‘S’ do Senna no GP do Brasil de 2012, manobra que quase tirou o título do germânico. Mas isso mal foi motivo para uma demissão por justa causa...
Amostra antiga
Eu já fora apresentado ao ‘lado malvado’ de Vettel quando ele perdeu o título da Fórmula 3 Europeia de 2006 para Paul Di Resta, em Le Mans.
Vettel já havia rodado e perdido um lugar no pódio na primeira corrida e agravou a situação ao escapar para a caixa de brita na segunda prova, facilitando o caminho de Di Resta para o título. Batido duas vezes pelo companheiro de equipe, um pecado capital... Imaginem o que ele deve ter ouvido de Dr. (Helmut) Marko por isso!
Foi o final de semana decisivo daquela temporada e eu provavelmente violei algumas regras ao adentrar pelo parque fechado sem que os comissários de prova percebessem. Interceptei Vettel antes que ele pudesse passar pela pesagem obrigatória, segundos depois que ele saiu do carro e tirou o capacete.
Ali, não vi o garoto sorridente, de cabelos despenteados, que eu observava atentamente desde os tempos de Fórmula BMW, quando ele realmente se destacou como um grande talento, e aquela personalidade cativante de todos os nossos encontros anteriores.
De repente, senti como se estivesse em uma cena de um filme de terror – simplesmente não era a mesma pessoa com quem eu me acostumara a lidar. O aspecto mais notável foi que ele não agia como normalmente – pude perceber pelas respostas de uma palavra quando eu o questionei sobre o que tinha acontecido de errado naquele dia.
A única resposta em que, de fato, ele respondeu com mais de uma palavra foi quando ele sugeriu que eu tinha conseguido o que queria, pois um compatriota meu estava prestes a ser campeão. Uma fala totalmente fora do perfil dele...
Reconheço, portanto, que ele tem um ‘lado maligno’ – na falta de um termo melhor, utilizo este. No entanto, em 99% do tempo Vettel não é nada mais do que uma pessoa simpática, generosa e realmente divertida de se ter por perto.
Além disso, mostre-me um atleta de elite e campeão mundial várias vezes que não seja totalmente implacável quando lhe convém.
Brilho ‘ofuscado’ por dominância
O único ‘crime’, de fato, cometido por Seb foi dominar a F1 com a Red Bull – o indicador apontado para o alto apareceu novamente no topo do pódio no GP da Hungria, mas houve uma chuva de reclamações no Twitter? De forma alguma. Todo mundo se mostrou genuinamente feliz com a corrida e com o fato de a Ferrari (e, ironicamente, a Red Bull) terem batido a Mercedes.
Dizer que ele só se tornou uma pessoa agradável desde que foi para a Ferrari não me convence. Na verdade, estou realmente impressionado com a forma como ele conseguiu se manter centrado depois de concretizar um sonho de infância ao seguir os passos de seu ídolo, Michael Schumacher.
Se há uma coisa na vida que dá a uma pessoa justificativa para agir de maneira tola, certamente essa coisa é ser piloto da equipe de Fórmula 1 mais famosa do mundo!
Ele é um piloto que eu tenho acompanhado há tempos, e creio que a sugestão de Bernie Ecclestone de que Vettel era um representante pior do que Lewis Hamilton enquanto campeão do mundo é, francamente, algo estranho de se dizer. Estou ansioso para ouvir o que Vettel tem a dizer sobre o tema, porque eu sei que ele vai dizer algo ‘real’, em vez do ‘politicamente correto’ que outros pilotos frequentemente dizem.
O verdadeiro Vettel
Agradou-me a maneira como Vettel reagiu quando lhe disseram que a vitória na Hungria o colocou com o mesmo número de vitórias de Ayrton Senna no domingo – deu para perceber que aquilo significou muito para ele. No entanto, o alemão rapidamente mudou para o 'modo de entrevista' – uma ferramenta mental que ele, claramente, tem desenvolvido ao longo dos anos.
A fala "C'est pour Jules" (esta é para Jules) – que ele disse no rádio, durante a volta da celebração e repetiu no pódio – é uma demonstração do homem que ele é. Junte isso à dedicação para aprender italiano, e temos aqui condições que podem até fazer com que ele (sussurre isso) ultrapasse Schumacher no coração dos tifosi, caso ele alcance no time de Maranello todo o sucesso conquistado com a Red Bull.
Parte importante da equação 'Vettel mais Ferrari, igual a sucesso’ é o equilíbrio que ele leva para o ambiente em que está. Quer outra mensagem de rádio significativa? "Isso mostra o que acontece quando não entramos em pânico."
Essa fala certamente sugere que houve alguém dentro da equipe que tenha pensado justamente em entrar em pânico, especialmente após os treinos de sexta-feira terem sido ruins para a equipe italiana.
Vettel carrega consigo essa mistura germânica/franco/anglo-saxônica de calma, adquirida nas categorias de base (lembre-se de que ele pilotou para times como Mucke, ART e Carlin antes de chegar à F1), para uma equipe italiana, que tem um histórico comprovado de emoções à flor da pele (pergunte para Fernando Alonso).
Quem sabe o que eles (Vettel e Ferrari) podem conquistar juntos se mantiverem James Allison no comando técnico?
Outro amigo meu sugeriu recentemente que a Ferrari errou ao se desligar de Alonso. Por mais que reconheça que o talento de Fernando é gigantesco, eu realmente acredito que foi uma das melhores decisões da equipe nos últimos tempos. Essa relação já tinha se deteriorado, havia desconfiança dos dois lados.
Para mim, as chances da Ferrari ser bem-sucedida no futuro passam pela seguinte condição: Sebastian Vettel continuar sendo o mesmo de sempre. Desse modo, tempos de glória virão.
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