Como F1 terminou com exaustivo calendário de 24 corridas em 2023?
Equipes e trabalhadores do paddock irão percorrer 133.570km de corrida a outra - sem contar ida para casa
O calendário da Fórmula 1 com 24 corridas programadas para 2023 poderia ser um sinal da saúde atual da categoria, mas para muitos, o calendário é motivo de preocupação.
Para quem trabalha no paddock, foi o primeiro sinal de quantos finais de semana seriam passados fora de casa no ano que vem. As pessoas brincaram sobre o futuro 'boom' no negócio de advogados de divórcio em Oxfordshire, onde a maioria das equipes de F1 está sediada, e se encolheram com a enorme quantidade de tempo que será gasto em voos na próxima temporada.
O número de carreiras não é o mais surpreendente do calendário. Sabíamos que isso iria acontecer, visto os planos de adicionar Qatar e Las Vegas, a volta da China e manutenção de Spa e Mônaco. O limite de 24 carreiras estabelecidos pelo Acordo de Concórdia sempre seria alcançado.
É o agrupamento de corridas que foi a fonte de frustração para aquelas que trabalham na F1. Alinhar Baku com Miami tendo Montreal um mês depois, colocando Qatar longe das outras etapas no Oriente Médio no calendário, com Austin apenas um mês antes de Las Vegas, este último formando uma rodada dupla com Abu Dhabi para encerrar a temporada.
A primeira vista, é algo que não tem muito sentindo, principalmente depois que a Fórmula 1 declarou sua intenção de se reagrupar geograficamente sempre que possível.
E isso antes de levarmos em conta as rodadas triplas. Lembram quando aconteceu a primeira vez em 2018 e as equipes disseram que não queriam que acontecesse novamente? E que em 2020 o regresso foi simplesmente por necessidade por conta da COVID? Bom, voltamos às triplas do próximo ano: Emília Romagna/Mônaco/Espanha e EUA/México/Brasil.
Cinco corridas em seis semanas para contemplar a temporada podem ser emocionante para os fãs, mas levarão o paddock ao limite.
As razões por trás
O calendário 2023 não foi fácil para a F1 construir. Parte da programação do início da temporada dependia da África do Sul, que agora terá que esperar até 2024, no mínimo, antes de ter uma corrida e sua ausência terá um efeito em cadeia nos outros lugares.
A China também se moveu a medida em que a Fórmula 1 pesava seus planos com ou sem a África do Sul, o primeiro lugar agora significa que deve haver clareza sobre a viabilidade de um retorno a Xangai mais cedo ou mais tarde.
Dividir Bahrain e Arábia Saudita no começo do ano pode parecer estranho dada a sua proximidade, mas há algo lógico por trás disso. Com a pré-temporada programada para acontecer no Bahrain uma semana antes da abertura da temporada, emparelhar as duas primeiras corridas tinha criado, ne verdade, outra rodada tripla. A divisão dá às equipes e ao pessoal pelo menos a oportunidade de ir para casa depois da abertura no Bahrain.
A separação do abridor do Bahrein do acompanhamento da Arábia Saudita remove uma cabeça tripla eficaz
Photo by: Andy Hone / Motorsport Images
A Austrália foi algo a ser criticado neste ano, porque só poderia ser emparelhada com a China - que naturalmente precisa de um intervalo maior, permitindo possíveis restrições de entrada - ou com o Qatar, que vem mais tarde como parte da série de corridas asiáticas junto com Singapura e Japão.
Ainda sim, a perspectiva de viagem no espaço de uma semana para ir e voltar de Melbourne segue sendo uma grande exigência para o paddock.
O retorno de Spa trouxe um novo desafio ao cronograma. Nunca iria recuperar seu lugar tradicional, já que os eventos de fim de ano estavam fixados e só havia espaço para dois evento europeus depois das férias de verão: Zandvoort e Monza. O fato de Spa ter sido movido para julho significou que Imola teve que ser transferida, formando o triplete com Mônaco e Espanha, o que também repercutiu na programação de Baku.
O que aconteceu com os planos de agrupar as corridas geograficamente?
Esta foi uma das maiores críticas feitas a F1 quando o calendário foi publicado. Para uma categoria que tem como objetivo alcançar a emissão zero de carbono para 2030, a quantidade de viagens aéreas - 133.570km para ir de uma corrida e outra sem nenhuma visita em casa - parece um enorme passo atrás.
Em maio, o diretor geral da F1, Stefano Domenicali, disse aos chefes de equipe que o plano era juntar as corridas por regiões a partir de 2023 como parte do seu compromisso de sustentabilidade. Embora tenha um agrupamento pouco preciso - Singpaura/Japão/Qatar, EUA/México/Brasil/Las Vegas - não é o tipo de programação que muitos esperavam neste sentido.
A F1 se esforçou para tentar agrupar melhor as corridas. Mas para muitos eventos, com contrato já em vigor e datas fixadas, mudar as corridas simplesmente não era viável. Em alguns casos, a pressão para tentar obter uma mudança de data chegou aos mais altos níveis de governo, apenas para ser rejeitada.
Os promotores têm que levar em conta a época do ano, as condições climáticas e qualquer possível impacto na experiência dos fãs, que é, em última instância, a forma como eles aumentam a receita para cobrir a taxa de hospedagem. Não é um trabalho de momento.
A mudança para um calendário mais agrupado é uma área que a F1 trabalhará no futuro, mas será difícil. Terá que equilibrar o desafio de mudar datas e manter os promotores satisfeitos com seu compromisso de sustentabilidade. Pelo bem do planeta, só poderá ter um vencedor aqui, mas levará tempo para conseguir um agrupamento adequado do calendário.
Staff rotation has been much mooted - but not realistic in current F1
Photo by: Steven Tee / Motorsport Images
O custo humano do calendário
As equipes são cada vez mais conscientes das consequências que o crescente calendário da F1 tem para os trabalhadores do paddock. A rotação das pessoas é algo que a maioria não só considera como desejável, mas também como necessário, para manter o pessoal fresco e evitar que se queimem.
No ano passado, o chefe da Mercedes, Toto Wolff, declarou ao Autosport que inclusive pensava que deveria incluir um regulamento para ter em conta as pressões do calendário, sobre tudo, quando se trata de cuidados da saúde mental.
Mas não é algo que se poder permitir a todos os membros da equipe. Em alguns casos, a função é tão especializada ou tão crucial que apenas uma pessoa pode desempenha-la. Pensemos nos engenheiros de corrida: é raro escutar uma voz diferente no outro lado do rádio falando com os pilotos.
Ainda que as equipes tenham protocolos para que outros membros possam intervir em caso de necessidade, a importância da relação dos pilotos faz com que a rotação regular não seja viável. É um desafio que os times devem enfrentar para garantir que os melhores talentos fiquem e possam desfrutar não só de uma boa corrida na F1, mas de uma carreira longa que não seja cortada pelo esgotamento.
Outro temor para muitos na F1 é que o calendário não cresça para mais do que 24 corridas. Domenicali sugeriu o ano passado que havia demanda para até 30 carreiras, mas a categoria deixou claro que esse não era o plano. O Acordo de Concórdia estabelece o limite de 24, que deve manter.
Isso não é apenas para assegurar que não haja uma saturação de eventos que afete os que trabalham para que as corridas aconteçam, mas também no interesse dos fãs que assistem em casa.
Por mais atrativo que seja atrativo a chegada de um número maior de carreiras para as equipes através dos prêmios e para o crescimento da F1 como todo, há que levar em conta a contrapartida médica que chega perto do limite no calendário do ano que vem.
The teams' personnel already spend long periods away from home - and that'll only extend with longer calendars
Photo by: Andy Hone / Motorsport Images
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