Análise: como os números de Jim Clark ainda são incríveis após mais de 50 anos de sua morte
No 52º aniversário da morte de Jim Clark, David Malsher-Lopez explica que, apesar das mudanças nos formatos e sistemas de pontos da F1, o brilho do bicampeão mundial ainda reina nos números
Nestes dias de 20 corridas por temporada na Fórmula 1, é surpreendente que qualquer marca na era dos 10 GPs por ano – como no caso de Jim Clark, que fez apenas sete temporadas completas - possa reunir estatísticas que ainda permanecem fortes nos livros de história da F1.
Afinal, Lewis Hamilton, da Mercedes, Sebastian Vettel, da Red Bull e Michael Schumacher, da Ferrari, desfrutaram de longos períodos de domínio no século XXI.
Schumacher competiu em 306 GPs, Hamilton e Vettel fizeram 250 e 240 largadas, respectivamente - e Clark, com apenas 72 GPs (apenas três temporadas e meia pelos padrões recentes) permanece presente em vários top-10.
Jim Clark, Lotus 49 Ford DFV at Kyalami on New Year's Day 1968. Final Grand Prix for the great man, completed in time-honored style with pole, fastest lap and victory.
Photo by: Motorsport Images
A última corrida de Clark, em 1968 em Kyalami, foi sua 25ª vitória, batendo o recorde de triunfos que Juan Manuel Fangio tinha desde 1957, e deu a ele uma taxa de vitórias de 34,7%. Mais de cinco décadas depois, ele ainda ocupa o nono lugar na lista de triunfos de todos os tempos, enquanto seu percentual de vitórias ainda é o terceiro, atrás de Fangio (46,15% certamente inigualável) e Alberto Ascari (39,39%), mas logo à frente de Hamilton.
Clark aparece duas vezes no top-10 quando se trata de porcentagem de corridas vencidas por temporada. A taxa é de 70% de 1963 (sete de dez provas) o que o deixa atrás apenas de Ascari em 1952 (seis de oito) e Schumacher em 2004 (13 de 18), enquanto suas seis vitórias de dez em 1965 são a sétima melhor temporada de todos os tempos. Mas é claro, ele só participou de nove GPs naquele ano. Ele e a equipe Lotus, de Colin Chapman, deixaram de participar do GP de Mônaco para correr as 500 Milhas de Indianápolis e venceram!
Também vale a pena notar que a temporada de 1965 também viu Clark vencer cinco GPs consecutivos, uma performance melhorada apenas cinco vezes, uma vez antes, por Ascari, e quatro vezes desde então.
Em termos de largar da pole, os números de Clark são ainda mais convincentes. Ele largou da primeira posição em 33 de suas 72 corridas, o que até agora o coloca em quinto lugar na lista definitiva, juntamente com Alain Prost, mas a história real está na porcentagem de poles: uma taxa de 45,83% deixa Jim em segundo, ficando atrás apenas de Fangio e bem à frente de pilotos como Ascari, Ayrton Senna e Hamilton.
The Lotus of Clark (left) beat Graham Hill (BRM) and Cooper's Bruce McLaren to pole at Rouen in ’62, but what should have at least been a podium instead produced suspension failure. Mechanical fragility ultimately cost Jimmy the title that year.
Photo by: David Phipps
Em termos de voltas mais rápidas, Clark é o sétimo de todos os tempos, com 28, mas (ignorando o fato da Indy 500 sendo contada no Mundial de F1 de 1950 a 1960), ele está novamente apenas atrás de Fangio em termos de porcentagem.
Boa parte das memórias em assistir Clark em uma corrida de F1 envolve em vê-lo desaparecer rapidamente do segundo colocado, e os livros mantêm essas memórias. Em 13 ocasiões, ele liderou todas as voltas de um GP - apenas Senna e Hamilton (19) e Vettel (15) fizeram isso com mais frequência. Mas Clark ainda detém o recorde de maior porcentagem de voltas lideradas em uma única temporada - 71,5% em 1963. Ambas as estatísticas podem ser um choque para os fãs que se lembram dos primeiros anos do milênio, cheios de domingos sonolentos, assistindo Schumacher assumir a liderança no início de uma corrida para vencer, mas, na verdade, o heptacampeão mundial liderou todas as voltas 'apenas' em 11 GPs.
Algumas estatísticas podem ser enganosas, como no caso de Markus Winkelhock, que tem uma taxa de 100% na F1, tendo se classificado para uma única corrida e liderado. Mas se tirarmos da equação o seu caso, bem como os dos participantes da Indy 500, Fangio lidera quando se trata de taxa de corridas em que se liderou ao menos um giro, com mais de 74% de seus GPs (38/51), Ascari tem 63% (21/33) e Clark 59,7% (43/72). Isso coloca Jim uma fração à frente de Hamilton e confortavelmente à frente de Senna.
Clark's Lotus 25 heads to victory at Spa in 1963. It was the second of four F1 wins for Clark at this venue, despite it being one he loathed.
Photo by: Motorsport Images
Surpreendentemente, o total de voltas lideradas de Clark ainda é o sétimo melhor de todos os tempos, e ele também está no top-10 em converter poles em vitórias - 15 vezes, ocupando a sétima posição, junto com Fangio e Nico Rosberg. No entanto, examine essas estatísticas um pouco mais para ver o número de vezes que um piloto conquistou a pole, a volta mais rápida e venceu, e Clark subitamente subiu para a terceira colocação, tendo alcançado o hat-trick especial em 11 ocasiões, atrás apenas de Schumacher e Hamilton. Em termos percentuais, ele está novamente em terceiro, mas derrotado por Fangio e Ascari.
Refine as estatísticas ainda mais para aqueles que alcançaram pole, volta mais rápida, todas as voltas na ponta e vitória, e Clark lidera em termos absolutos, pois em oito ocasiões ele estava simplesmente em uma competição própria, desde a classificação até a bandeira quadriculada no dia da corrida. Os únicos pilotos atuais no mesmo estágio são Hamilton (seis) e Vettel (quatro), enquanto em termos percentuais, apenas Ascari está à frente, tendo sua carreira interrompida tragicamente após apenas 33 GPs, com cinco vezes.
O que poderia ter acontecido
Another French GP win, this one at the beautiful Clermont-Ferrand track in 1965, at the wheel of a Lotus 33.
Photo by: David Phipps
Para Ascari e Clark, resta refletir sobre como suas carreiras poderiam ser. Ascari tinha 36 anos no momento de seu acidente fatal em 1955 e seu grande rival, Fangio, tinha 39 quando o Mundial começou em 1950, provaria que ainda era possível ganhar GPs com 46 anos, se você fosse um dos grandes. Esse manto pode ser concedido sem hesitação a Ascari que, permitindo o destino, poderia ter derrotado Fangio até a marca de cinco títulos. Outra grande menção ao italiano pode ser vista nas glórias que acumulou em 1948 e 1949, ou seja, antes do Campeonato Mundial.
Os fãs de Clark não têm esse fator, mas têm algo parecido. O recorde de triunfos de Jim nas corridas de Fórmula 1 que não eram de campeonato: das 53 corridas em que participou entre 1960 e 67, ele venceu 19, o deixando com uma taxa de sucesso de 35,8% (notavelmente semelhante ao que alcançou em eventos do campeonato) e conquistou 28 poles (52,8%). Muito antes de completar 32 anos, em 4 de março de 1968, Clark havia provado repetidamente que ele era o melhor da época, mesmo antes de considerar sua versatilidade fantástica em carros da Indy, de turismo, esportivos e carros da Tasman (tricampeão com 15 vitórias em 32 corridas).
Bicampeão mundial de F1, apenas falhas mecânicas roubaram de Clark mais três títulos (1962, 1964 e 1967) e, embora abençoado com o carro mais rápido durante grande parte de sua carreira, ele o usou de maneira exemplar, como destacado por performances comparativas com seus companheiros de equipe. De longe, o mais bem-sucedido foi Graham Hill, que já tinha o campeonato de 1962 e 10 vitórias. No entanto, nas 10 corridas que correram como companheiros de equipe, com o mesmo equipamento, ele raramente era uma ameaça.
With Keith Duckworth of Cosworth, Colin Chapman and Graham Hill, as they pose beside the new Ford Cosworth DFV V8 in 1967.
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
Algumas pessoas sugeriram que Clark já estava pensando em se aposentar, e que um terceiro título em 1968 poderia tê-lo convencido a voltar às raízes da criação de ovelhas na Escócia. Outros, como Jackie Stewart, amigo de Clark, rival e outro grande da F1- discordaram, acharam que seu compatriota não apenas mantinha uma paixão pelo esporte, mas também aprendia a apreciar o estilo de vida mais sofisticado, de um campeão esportivo que vivia em Paris.
On his way to an improbable victory at Zandvoort in ’67, with the brand new Lotus 49 powered by the DFV on its debut.
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
Será que Jim realmente poderia ter se afastado da F1 sabendo que ainda era o melhor de sua época - melhor até do que o astro em rápida ascensão Stewart, e de Rindt, Chris Amon e Jacky Ickx? Certamente o fascínio de dar um tapa nesses ‘jovens insolentes’ o teria levado a cavar fundo e continuar.
A conclusão natural do teorema é que, no final de 1974, o último ano competitivo do Lotus 72, Clark poderia ter abandonado a F1 com 38 anos, e ser bastante jovem e apto o suficiente para reiniciar a promissora carreira agrícola.
Confira imagens da carreira de Jim Clark
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