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F1 - Mansour Ojjeh: a força desconhecida por trás da McLaren

Empresário esteve presente no esporte por 43 anos

Zak Brown, McLaren Executive Director with Mansour Ojjeh, McLaren shareholder

Na manhã de domingo, a triste notícia da morte do coproprietário da McLaren, Mansour Ojjeh, foi um choque para o paddock da Fórmula 1 em Baku.

Embora fosse amplamente conhecido que ele tinha passado por problemas de saúde, tendo se submetido a dois transplantes de pulmão em 2013, poucos sabiam que sua situação havia se agravado recentemente.

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Ojjeh esteve presente no esporte por 43 anos, primeiro como patrocinador da Williams, depois como patrocinador do motor TAG Turbo que conquistou três títulos e, posteriormente, como acionista da McLaren.

Ele foi o homem cujo suporte financeiro e visão estratégica ajudaram Ron Dennis a fazer a companhia de Woking crescer, tornando-a uma marca mundialmente conhecida e algo muito maior do que uma equipe de corrida.

Apesar de seu grande envolvimento na linha de frente do esporte, ele permaneceu desconhecido por parte do público, raramente aparecendo na mídia e sempre preferindo ficar em segundo plano.

Aqueles que o conheciam bem se lembram de uma personalidade carismática com uma presença dominante que iluminava qualquer sala em que entrasse.

"Mansour foi provavelmente o melhor ser humano que já conheci", disse o atual CEO da McLaren, Zak Brown. 

"Ninguém terá nada além de grandes coisas a dizer sobre Mansour."

"Nunca conheci alguém que não achasse que era uma pessoa inacreditável. E entendo por que agora, tendo trabalhado para ele. McLaren era sua família. E todos que trabalhavam na McLaren eram família. Ele se preocupava com as pessoas, imensamente."

“É hora dele receber um pouco do reconhecimento que ele merece e que nunca procurou. Ele não gostaria de ler essa história, mas acho que devemos a ele isso, contar a história de sua contribuição para a McLaren na F1."

Andreas Seidl, Team Principal, McLaren, Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren, and Zak Brown, Executive Director, McLaren

Andreas Seidl, Team Principal, McLaren, Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren, and Zak Brown, Executive Director, McLaren

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

"Para mim, acho que ele foi o coração e a alma da McLaren por quase 40 anos", disse Martin Whitmarsh, ex-chefe da equipe.

“O que as pessoas precisam perceber é o quão grande ele era como personalidade. Ele era um homem incrível, amado por tantos."

“E acho que ele inspirou a todos na McLaren durante os anos de vitórias. Ele era discreto e tinha uma enorme humildade. E muito generoso."

"E apesar da discrição e humildade, ele simplesmente preenchia com seu charme, sua inteligência, seu calor e sua paixão cada cômodo, cada garagem, cada motorhome."

"Dos mecânicos aos pilotos, não conheço ninguém no paddock que tenha tido algo contra Mansour", disse Eric Boullier, outro ex-chefe da McLaren. 

"Ele era muito simpático, muito carismático, muito inteligente. Você só encontra coisas positivas sobre ele."

Ojjeh era basicamente um empresário e comerciante astuto. Ele teve uma vantagem inicial na vida, pois a Techniques d'Avant Garde e as empresas que a compunham foram fundadas pelo seu pai Akram. Assim, ele cresceu em um mundo privilegiado de jatos e iates particulares.

No entanto, em vez de simplesmente buscar uma vida de lazer, ele estudou muito, e fez um mestrado em negócios na Califórnia. Isso o tornou habilmente qualificado para assumir o controle da TAG e expandir ainda mais os interesses da família.

O envolvimento da empresa no automobilismo deveu-se inteiramente aos seus próprios esforços. Tudo começou com uma viagem ao GP de Mônaco de 1978, uma visita que despertou seu interesse e levou a um modesto patrocínio da Williams.

Embora leal à Williams, Ojjeh ficou intrigado quando Dennis veio em busca de financiamento para pagar a Porsche para construir um motor turbo de F1.

Ojjeh gostou da ideia da TAG se relacionar a um fabricante tão prestigioso e, além de seu uso na categoria, viu um futuro para o V6 como motor de helicóptero.

Mansour não apenas queria que a equipe que já patrocinava compartilhasse o novo motor com a McLaren, ele também queria comprar uma participação.

No entanto, Frank Williams recusou ambas as oportunidades, preferindo manter a propriedade conjunta com Patrick Head e, finalmente, buscar um acordo com a Honda.

Tendo sido rejeitado, Ojjeh foi, na verdade, obrigado a colocar todos os seus esforços em Dennis e McLaren.

Ron Dennis and Mansour Ojjeh

Ron Dennis and Mansour Ojjeh

Photo by: David Phipps

"Não houve uma desavença real entre Frank e Mansour", lembra Head. "Acho que Mansour ficou desapontado por Frank não ver o quadro geral e ele acreditava que Ron tinha um potencial maior. Ele teria sido um parceiro fantástico. Mas, de qualquer maneira, isso não aconteceu."

“Obviamente eu não estava por perto naquela época”, disse Brown. "Mas, conhecendo Mansour como eu conhecia, ele teria sido muito franco sobre isso, e teria sido simpático e muito honrado. Não acredito por um segundo que ele teria feito as malas e deixado Frank. Isso não seria o Mansour."

O motor TAG ganhou o campeonato mundial com a McLaren em 1984, 85 e 86 antes de Ojjeh mudar para a Honda. Até então, ele se tornou o proprietário majoritário da equipe.

Nos anos posteriores, sua participação acionária real variariava à medida que outros investidores fossem incorporados, mas ele continuou sendo uma força motriz. É impossível quantificar adequadamente sua contribuição ao longo das décadas.

“Acho que ele foi o cara que encorajou Ron e todos a pensar grande”, disse Whitmarsh, que ingressou na McLaren em 1989.

“E sonhar e lutar por esses sonhos. E você fazia isso naturalmente por estar perto dele."

"Você queria que a McLaren fosse a melhor. Você queria que ela tivesse os melhores carros, melhor motorhome, melhor garagem, o melhor serviço de bufê."

“Algumas pessoas não vão se identificar com isso, vão dizer que esse é o absurdo da McLaren, ou seja lá o que for."

"Mas não foi culpa de Mansour, foi do resto de nós. Ele foi apenas a inspiração - vamos tentar ser os melhores. Fomos a todas as corridas pensando que deveríamos ganhar esta."

Ojjeh apoiou a criação da subsidiária TAG Electronics, mais tarde rebatizada com o nome McLaren, e que agora é um fornecedor importante em toda a indústria de esportes a motor.

Ele também merece muito crédito pelo nascimento do carro de rua da McLaren F1, o projeto que ajudou a elevar a empresa a outro nível.

“Ele era a força motriz”, disse Whitmarsh. “Ele era um entusiasta de carros, mais do que qualquer outra pessoa, e éramos uma equipe de corrida na época. Ele foi o cara que disse: 'Vamos fazer um carro de rua.' Ele era o cara que ousava sonhar, e não apenas sonhar, era 'vamos construir o melhor carro de rua do mundo'."

"Gordon [Murray] certamente merece crédito, Ron merece crédito. Mas isso não teria acontecido sem a paixão e a instigação de Mansour."

Ron Dennis and Mansour Ojjeh on the pitwall.

Ron Dennis and Mansour Ojjeh on the pitwall.

Photo by: Rainer W. Schlegelmilch

Muitos anos depois, aconteceu uma situação semelhante, quando Whitmarsh apresentou os planos para o que se tornou a McLaren Automotive - no meio de uma crise econômica global.

“Sem alguém como Mansour sendo instrumental e solidário, teríamos feito isso?”, lembrou ele. "Mansour era um grande torcedor, ele queria um de cada um dos carros para si mesmo. Ele era muito mais apaixonado e experiente do que qualquer outra pessoa que tínhamos ao nosso redor."

Ojjeh estava envolvido em todas as grandes decisões estratégicas da McLaren, como a escolha de parceiros de motores. Ele não era responsável pelas atividades do cotidiano - por décadas ele deixou isso para o sócio e coacionista Dennis. Infelizmente, a relação entre esses dois homens motivados, mas muito diferentes, acabaria implodindo.

A dinâmica mudou quando Whitmarsh e, posteriormente, Boullier, Brown e Andreas Seidl assumiram cargos de chefia, e Ojjeh ajudou a orientá-los.

Como qualquer bom proprietário de empresa, ele conhecia o valor de delegar a alguém em quem confiava. No entanto, ele sempre soube exatamente o que estava acontecendo.

“Ele estava interessado nos detalhes, mas deu poder”, disse Brown. "Ele sempre me deu um grande apoio durante todo o tempo. Quando as coisas estavam difíceis quando eu entrei, ele me apoiou totalmente. E gostava de estar por dentro, para que pudesse se envolver e contribuir."

“Ele não queria entrar nos detalhes para ser um microgerenciador, ele queria estar nos detalhes para se informar. Ele contribuiu muito com a direção, tinha uma opinião, mas me deu poderes para comandar a equipe."

“Provavelmente alguns proprietários apareceram e só querem ir para a corrida, mas ele estava muito mais envolvido do que isso."

“Ele sempre dizia que, como dono de muitos negócios, seu trabalho era contratar os melhores administradores e dar-lhes o apoio de que precisam."

"Mas ele precisava ter conhecimento suficiente sobre seus respectivos negócios para poder formar uma opinião sobre se a administração estava fazendo um bom trabalho ou não."

“Ele estava realmente muito envolvido”, disse Boullier. “Nos bastidores ele era muito ativo e muito conectado. Mas estava mantendo distância. Ele sabia tudo o que era importante, prestava muita atenção nas pessoas, em como as pessoas interagiam e como se sentiam."

“Ele queria saber todas as coisas de alto nível, estava atento e envolvido e dava conselhos, mas se comportando como um acionista, o que é muito raro."

Mansour Ojjeh, TAG and Ron Dennis, McLaren Executive Chairman

Mansour Ojjeh, TAG and Ron Dennis, McLaren Executive Chairman

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

Esse grau de confiança foi apreciado pelo pessoal sênior da McLaren.

“Acho que ele inspirava a tomar as decisões certas”, disse Whitmarsh. "Ele não dizia a você qual deveria ser a decisão. E isso é uma coisa realmente grande."

"E eu acho que ele fazia com que você o possuísse, e ele fez com que você quisesse entregar também. Ele não era opressor. Ele nos obrigou a fazer muitas coisas, mas ele fez isso nos inspirando, não nos ordenando, se aquilo fazia sentido."

"E essa é a liderança mais poderosa, não é? Essa é a forma de liderança mais confiante."

Ojjeh não era apenas um bom delegador, ele podia maravilhar a todos com seu entusiasmo.

"Grande senso de humor, muito espirituoso, toneladas de energia", disse Brown. “E ele queria vencer e queria vencer da maneira certa. Altamente ético. E você pode ver isso em sua família, sua esposa, seus filhos, seus amigos."

“Ele viveu bem, viveu uma vida grande, belas casas, aviões e barcos. Ele era um homem rico e vivia de acordo, mas não se tratava de ser espalhafatoso."

“Ele era apenas uma pessoa de primeira classe em todos os aspectos, formas e jeitos. Muito bem educado, conhecedor do mundo, como você pode imaginar. Ele era uma força motivadora para todos na fábrica."

"Ele não queria ou precisava dos holofotes. Ele era muito mais influente e contribuiu muito mais para a McLaren do que as pessoas podem pensar, por causa da maneira como ele não buscou atenção, ou não quis crédito." 

Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren

Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren

Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images

“Acho que ele fez com que todos nós desejássemos que a McLaren e a nós mesmos melhorássemos”, disse Whitmarsh. “Ele era um cara que se preocupava com todo mundo. Ele era um grande, grande homem, uma grande personalidade."

“Mas o que sempre me impressionava se você o observava em uma sala, em um barco, em qualquer circunstância, social, privada ou pública, ele se importava com todos. Ele queria que todos se sentissem incluídos e à vontade."

"Ele não era um desses caras grandes que gravitava em torno dos outros caras grandes na sala e ignorava os pequenos."

"Onde quer que você fosse no mundo, ele inspirava essa lealdade incrível de sua equipe, e isso porque ele inspirava as pessoas, ele era charmoso, ele era atencioso."

Ojjeh esteve perto de gerações de pilotos da McLaren, de Niki Lauda, ​​Alain Prost e Ayrton Senna a Mika Hakkinen e Lewis Hamilton até a formação atual.

Todos o valorizavam como um verdadeiro amigo muito mais do que como um chefe, e assim essas amizades continuaram por anos depois que eles deixaram a equipe.

“Quando recrutamos Daniel [Ricciardo], ele desempenhou um grande papel nisso”, disse Brown. "Apenas no que diz respeito ao relacionamento, ele era alguém que lhe dava vibrações muito calorosas e fazia você se sentir muito bem-vindo e amado."

Ele não tinha medo de dividir a responsabilidade por decisões difíceis.

"Quando não renovamos o contrato de Stoffel [Vandoorne], foi muito importante para ele que fosse feito com respeito", disse Brown. "Mesmo que não tenha funcionado com Stoffel, Mansour amou todos os pilotos e compartilhamos essa notícia juntos."

“Então ele foi muito honesto. Algumas pessoas podem dizer, 'Zak, você lida com as coisas difíceis.' Ele não tinha nenhum problema em se sentar à mesa de jantar e apenas ser honesto com as pessoas."

Ojjeh teve problemas de saúde durante vários anos antes de se submeter a dois transplantes de pulmão em 2013 e, de maneira típica, poucos sabiam. A segunda operação, bem-sucedida, deu-lhe um novo começo, embora na realidade ele estivesse vivendo com um tempo 'emprestado'.

Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren

Mansour Ojjeh, co-owner, McLaren

Photo by: Simon Galloway / Motorsport Images

“Sua determinação, sua energia e seu amor pela vida, pelo que ele estava fazendo, sua família e sua equipe de corrida, é o que o moveu,” disse Brown. "Ele era impressionante, como ele se portava."

"E eu acho que ele viveu nos últimos tempos com muito mais dor do que as pessoas imaginavam. Mas não era isso que ele fazia. Ele viveu a vida em sua plenitude, ótima família, ótimos amigos, incrivelmente bem-sucedido."

"Então ele não era o tipo de pessoa que gostaria que alguém sentisse pena dele. E ele simplesmente seguiu em frente."

Infelizmente, o tempo extra acabou para ele no último fim de semana. Deixando de lado seu papel na McLaren, Ojjeh fará falta para aqueles que o conheceram, não apenas como um amigo valioso, mas também como alguém que era muito inspirador.

“Ele foi muito influente como professor”, disse Whitmarsh. “Tantas pessoas queriam ser como Mansour. Não conheço ninguém que tenha conseguido isso. Mas todos nós queríamos ser um pouco como ele. Todos nós fomos inspirados por como ele tratava as pessoas, como ele tratava a vida."

“Há momentos com meus próprios filhos, em minha própria vida, em que sei que não sou tão bom quanto Mansour Ojjeh. Há momentos em que deveria ter mais charme, deveria ter mais paciência, deveria ter um jeito melhor com pessoas. E ele era o exemplo disso."

"Não quero parecer muito entusiasmado com isso, mas não consigo enfatizar o suficiente. Não há muitos casos em que eu possa dizer que realmente amei esse cara. É incrivelmente triste principalmente para Kathy e a família, mas também para tantos de nós que o amou, e sentiremos tanto a falta dele."

Os interesses da família agora serão cuidados pelo filho de Mansour, Sultan, que já é membro do Grupo McLaren.

“A família Ojjeh está totalmente comprometida com a McLaren”, disse Brown. "Mansour saiu da mesa no ano passado e estava trazendo Sultan. Sultan é muito inteligente, ele correu a vida toda."

"Portanto, Sultan agora carregará a tocha pela família Ojjeh. Acho que ele fará um ótimo trabalho."

Então, o quanto a McLaren sentirá falta da contribuição de Mansour?

"Uma tonelada", disse Brown. “Mas acho que ele também vai levar muita inspiração e motivação dentro da fábrica."

"Acho que, embora ele possa não estar lá pessoalmente, ele está lá em espírito e isso vai nos manter altamente motivados. Nossa próxima vitória será 100% para ele", concluiu.

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 and Mansour Ojjeh, TAG

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1 and Mansour Ojjeh, TAG

Photo by: Sutton Images

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