Entrevista

Hamilton defende atitude de Taison na Ucrânia, critica discursos de Trump e não vê solução contra racismo em curto prazo

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, hexacampeão mundial falou sobre perpetuação da cultura racista no mundo e citou caso de jogador de futebol brasileiro

Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1

Lewis Hamilton conquistou o sexto título mundial de Fórmula 1 há duas semanas, em Austin, nos Estados Unidos. Com a nova estrela no ‘cinturão’, o britânico desembarcou em São Paulo para a disputa do GP do Brasil. Estrela global e hoje engajado em questões ambientais e discussões raciais, o piloto da Mercedes concedeu exclusiva ao Motorsport.com.

Primeiro (e até hoje único) negro a competir na categoria máxima da velocidade, o britânico falou sobre diversos temas. Em determinado momento, a reportagem do Motorsport.com relatou a ele o episódio do atacante Taison, que sofreu insultos racistas durante partida na Ucrânia em que seu time, o Shakhtar Donetsk, enfrentava o Dínamo de Kiev. O brasileiro mostrou o dedo do meio e acabou expulso pela arbitragem, o que foi visto com espanto por Hamilton.

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Questionado sobre quando episódios como esse deixarão de acontecer, o piloto da Mercedes foi categórico: "Eu acho que vai demorar muito, muito tempo. É uma coisa que envolve educação, na minha opinião. Não posso falar por outros países, mas imagino que seja um cenário parecido com onde vivi. Tudo está tudo relacionado à educação das novas gerações, e isso vem dos pais. São os pais que passam os ideais, valores e crenças que têm em mente. E colocam isso nas crianças."

"Quando eu tiver meus filhos, eu vou dizer: ‘isso é o que eu quero e espero de vocês’. Esse é o círculo da vida. A educação escolar é fundamental. Nela, eu só aprendi a ‘História branca’. Nunca me contaram nada sobre minha cultura. Meus pais me contaram sobre minha história, porque eles queriam falar sobre a cultura deles", seguiu Hamilton, que usará, novamente, um capacete especial no GP do Brasil de F1.

Capacete de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1, para o GP do Brasil de 2019
Capacete de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1, para o GP do Brasil de 2019
Capacete de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1, para o GP do Brasil de 2019
Capacete de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1, para o GP do Brasil de 2019
Capacete anterior de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1
Capacete anterior de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1
Capacete anterior de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1
Capacete anterior de Lewis Hamilton, Mercedes AMG F1
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"Não sei se o sistema escolar nos dias de hoje segue igual, mas imagino que sim. Acho que as pessoas precisam ouvir essa realidade, essa história, entender o que é o racismo. Assim, entenderão que somos todos iguais e estamos todos conectados ao planeta Terra."

Após analisar a questão ampla que envolve o racismo mundial, Hamilton analisou o episódio de Taison, afirmando entender a reação do brasileiro. Na resposta, até Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, foi alvo das críticas do piloto.

"Claro que o futebol é uma coisa gigantesca, que envolve multidões. Mas em todo país que eu vou, me lembro de uma vez que fui competir na Itália, onde sempre fui bem tratado e recebo amor dos meus fãs, e na pista só tinha um outro negro, africano, que vendia relógios. Faltava diversidade."

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"E quando você tem líderes, como Donald Trump, que se posicionam de forma que você pode classificar como comentários raciais, e as pessoas assistem TV e vêem isso, é como se confirmasse a visão errada de alguns. É um efeito dominó, uma círculo constante."

"Eu entendo esse jogador (Taison) em mostrar o dedo do meio para a torcida. Quando eu estava no kart, eu me lembro de ser empurrado para fora da pista o tempo todo. Eu era o único negro lá. E eu queria brigar o tempo todo. Meu pai dizia: ‘Fale na pista. A melhor coisa que você pode fazer é derrotá-los na pista'. E isso foi o que sempre fiz. Eu falei através do meu carro."

Veja 11 pessoas que marcaram trajetória de Hamilton nos seis títulos mundiais:

Ayrton Senna: Hamilton não cansa de exaltar a idolatria pelo piloto brasileiro. Mesmo após a conquista do hexa no último domingo, ele voltou seus pensamentos à infância, de quando sua madrasta o acordava para assistir as provas com o pai, acompanhado de um sanduíche de bacon.
Além disso, o capacete que o piloto usou em boa parte da carreira era uma homenagem direta a Senna. Outra passagem importante, foi quando Hamilton igualou o brasileiro no número de poles (65) no GP do Canadá de 2017, recebendo um dos cascos de Senna, cedido pela família.
Nicole Scherzinger: Líder do grupo Pussycat Dolls, NIcole Scherzinger foi namorada de Hamilton mais 'pop', começando um relacionamento após MTV Europe Music Awards de 2007 e que durou até 2015.
No fatídico GP do Brasil de 2008, ela era uma das principais personagens que viveu o carrossel de emoções com a indefinição do primeiro, dos seis títulos.
Ron Dennis: Hamilton assinou contrato com o programa de jovens pilotos da McLaren em 1998, depois de abordar o chefe da equipe, Ron Dennis, em uma cerimônia de premiação três anos antes e prever:
Ele estreou na Fórmula 1 12 anos após seu primeiro encontro com Dennis, guiando para a McLaren em 2007 e conquistando o campeonato mundial no ano seguinte.
Anthony Hamilton (pai): Certamente o maior propulsor da carreira de Hamilton, desde os oitos anos, quando o piloto começou sua vida profissional no kart. Anthony foi também empresário de Lewis até boa parte da passagem do piloto na F1. Ambos se desentenderam em 2010, com os dois deixando de ter contato de maneira profissional e pessoal.
Aos poucos, o relacionamento entre eles voltou ao normal, com a família reunida no último natal, além da presença in loco no GP dos Estados Unidos para ver o hexa (foto) do filho, no domingo em Austin.
Carmen Larbalestier (mãe biológica): Hamilton viveu com sua mãe biológica até os 12 anos de idade, quando foi morar com o pai e a madrasta, Linda, além do meio irmão Nic.
Menos presente no paddock da F1, em comparação ao pai, Carmen acompanhou momentos especiais do piloto, como em 2008, no GP da China, poucas semanas antes de conquistar seu primeiro título, no tetra no GP do México em 2017, além de também marcar presença em Austin no domingo.
Martin Whitmarsh: Chefe de operações da McLaren, foi figura importante no primeiro título de Hamilton, em 2008, já que Ron Dennis ainda se via com problemas após o famoso caso do Spygate, no ano anterior.
Em 2012, Whitmarsch não engoliu bem a decisão de Hamilton de deixar a McLaren para uma nova jornada na Mercedes, dizendo que seria “um erro”.
Fernando Alonso: O primeiro e certamente um dos rivais mais ‘pesados’ que Hamilton teve em sua carreira na F1. No ano de estreia, Alonso vinha para a McLaren com a pompa de bicampeão mundial e se incomodou com a ousadia de um novato de desafiar seu reinado. A explosão veio no polêmico quali do GP da Hungria, quando Alonso atrapalhou a volta decisiva de Hamilton.
O clima ruim no time fez com que o espanhol voltasse à Renault no ano seguinte e o respeito tomou conta entre os dois com o passar dos anos, de maneira gradual, principalmente quando Alonso definiu pela sua saída da F1 no ano passado, com o inglês afirmando que o antigo rival era “o melhor piloto com quen correu contra”
Nico Rosberg: Quando Hamilton se juntou à Mercedes em 2013, ele seria colega do seu antigo companheiro de equipe de kart e amigo, Nico Rosberg.
Durante quatro temporadas, período de domínio da Mercedes na Fórmula 1, o relacionamento ficou tenso e, às vezes, levou a confrontos dentro e fora da pista. Desde o início da era híbrida da F1, com ambos do mesmo lado, Hamilton venceu dois mundiais, enquanto que Rosberg levou o campeonato de 2016.
Niki lauda: O tricampeão mundial trabalhou com Hamilton por sete anos, quando ocupou o cargo de vice-presidente não-executivo da Mercedes. Hamilton atribui a sua ida ao time alemão à lenda austríaca, que morreu em maio deste ano.
Após a partida de Lauda, Hamilton publicou a seguinte mensagem:
Simon Fuller – Sem o pai como empresário, Hamilton passou a ter o auxílio da XIX Entertainment, de Simon Fuller, que criou a franquia de programas como American Idol e tinha sob administração as carreiras de David e Victoria Beckham, Annie Lennox, S Club 7, Steven Tyler, Andy Murray, Amy Winehouse, Carrie Underwood, Kelly Clarkson, Lisa Marie Presley, entre outros.
Nic Hamilton (irmão): Irmão mais novo de Lewis, Nicolas vem superando as consequências de uma paralisia cerebral por conta de um nascimento prematuro. Mesmo com dificuldades de locomoção, Nic teve auxílio de cadeira de rodas até o início da fase adulta e também se tornou piloto, utilizando um carro adaptado em categorias de turismo inglesa.
Hoje, ele mora sozinho, tem uma vida autônoma e faz questão de exaltar que não depende do irmão famoso para viver, que sempre repete que Nic é uma inspiração para ele.
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Podcast: o que esperar do GP do Brasil de F1?

Nesta edição do podcast Motorsport.com Brasil, Carlos Costa e Gustavo Faldon falam sobre a expectativa para o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1.

 

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