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OPINIÃO F1: O verdadeiro teste das 'regras papaia' começa agora

Com o campeonato de construtores garantido, a prioridade do time britânico agora deve ser lidar com a disputa entre seus dois pilotos. será que o 'regulamento interno' da equipe será suficiente para controlar a situação?

Lando Norris, McLaren, Oscar Piastri

O atrito ocasional entre Oscar Piastri e Lando Norris (e com a McLaren) no ano passado foi apenas um aperitivo do que já aconteceu em 2025 e do que ainda está por vir. Max Verstappen pode estar se aproximando aos poucos, mas a disputa pelo título de pilotos da Fórmula 1 está nas mãos dos titulares do time de Woking. 

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Diferente do ano passado, quando Norris perseguia a liderança de Verstappen na segunda metade da temporada enquanto a McLaren lutava para equilibrar sua filosofia de igualdade com a necessidade prática de priorizar Norris em relação a Piastri, agora o duelo é interno.

Isso colocou Piastri e Norris em uma situação que eles nunca haviam vivido antes. Tensões e pressões inevitavelmente tendem a aumentar, submetendo as regras internas da McLaren ao teste de resistência definitivo.

O confronto se aproxima e, como é natural, a pressão vai aumentar. Nas primeiras 17 corridas da temporada, a McLaren gerenciou seus pilotos de forma impecável, suavizando os atritos à medida que surgiam e mantendo com sucesso o vínculo de confiança tanto com Norris quanto com Piastri. As agora famosas "regras papaia" funcionaram até aqui com a mesma eficiência do MCL39, permitindo à equipe comemorar seu segundo campeonato de construtores consecutivo com seis corridas (e três sprints) de antecedência antes do fim da temporada.

Porém, há um desafio que a McLaren ainda enfrenta, um teste que de fato começa agora, ou talvez tenha começado no último fim de semana em Marina Bay. Na F1, cada aspecto é levado ao extremo, o desafio é que tudo funcione ao máximo, não há meio-termo.

As margens de tolerância não fazem parte do esporte e o imperativo é alcançar o máximo possível. Essa premissa serve para colocar as "regras papaia" em contexto: o conjunto de regras exigidas dos pilotos (e não só) pela McLaren, uma espécie de código comportamental sob a bandeira do fair-play, que visa deixar os pilotos livres para correr.

Na verdade, Norris e Piastri têm duas entidades vigiando seu comportamento na pista: o conselho de comissários e também a própria equipe, que avalia e toma decisões, como vimos em várias ocasiões em 2024 e 2025. Até agora, tudo correu bem, mas o teste definitivo, aquele que colocará o sistema à prova, começa agora.

A história da F1 nos ensina que as lutas mais difíceis ocorrem quando dois candidatos ao campeonato mundial chegam ao aperto final, em cenários em que não há chance de recuperação. A tolerância diminui e são diversos os exemplos de pilotos que recorreram a jogos e manobras que foram além do permitido para atingir o objetivo.

Lando Norris, McLaren, Oscar Piastri, McLaren

Lando Norris, McLaren, Oscar Piastri

Foto de: Sam Bloxham / LAT Images via Getty Images

Mesmo correndo o risco de inflamar alguns fãs, esses são alguns exemplos: Michael Schumacher com Jacques Villeneuve em Jerez, 1997, e com Damon Hill em Adelaide, 1994. E, como esquecer, Ayrton Senna e Alain Prost na corrida em Suzuka, em 1990. 

Igualmente relevante, especialmente no contexto de Singapura, é o exemplo do GP do Japão de 1989, no qual Senna e Prost, então companheiros de equipe na McLaren, se encontraram na chicane de Suzuka.

"Senna – será que ele está guardando alguma surpresa ou vai tentar algo desesperado?" havia ponderado James Hunt na transmissão da BBC momentos antes. Foi claramente a segunda opção. A física da manobra era simples: Senna fez um mergulho tardio pela linha de dentro, o que exigia que Prost o deixasse passar — ou eles colidiriam.

“Toda vez que começamos nossas conversas com os pilotos, sempre lembramos a nós mesmos, como premissa, que isso é difícil,” disse o chefe de equipe, Andrea Stella, em Singapura.

“Porque esse é o único aspecto em que, quando se corre juntos como equipe, na verdade, não se pode ter exatamente os mesmos interesses para os dois pilotos, porque cada um quer buscar seus próprios objetivos. E esse é um princípio fundamental da forma como corremos na McLaren – queremos proteger esse conceito do ‘deixem correr’. Sabemos que, assim que adotamos esse conceito, enfrentamos dificuldades. Com essa consciência, é preciso ser criterioso e ter integridade na forma de lidar com isso", continuou. 

“Tenho muito orgulho da maneira como Lando e Oscar têm participado do processo até agora, porque se conseguimos navegar por essa parte 'difícil' das corridas é porque temos Lando e Oscar conosco. Eles têm sido grandes colaboradores e é por isso que tem dado certo até aqui. Com certeza vamos trabalhar duro para que isso continue sendo verdade até o fim da temporada e nos próximos anos". 

A parte mais difícil, o verdadeiro teste de estresse desse regulamento interno, vem agora. Nas próximas corridas, podem ocorrer episódios fora do controle da equipe que podem afetar a classificação geral, mas o que todos esperam é ver uma final em que Piastri e Norris lutarão ponto a ponto, até a bandeira quadriculada em Yas Marina.

Em termos de pressão, quanto mais nos aproximarmos do final da temporada e quanto mais elétrico o ar se tornar, os pilotos começarão a correr tendo em mente o resultado da etapa, mas, acima de tudo, os pontos na classificação geral, destinados a se tornar o único objetivo real.

Nesse cenário, a aplicação das 'regras papaia' poderia ser muito menos simples do que o que foi visto até agora. Imaginar o que foi visto na corrida de Monza (quando Piastri obedeceu às ordens da equipe cedendo sua posição a Norris) em uma hipotética (mas possível) final em Abu Dhabi não é tão óbvio.

Será um passo importante para a filosofia das "regras papaia", porque a confiança aqui é multidimensional: Piastri e Norris precisam confiar um no outro na pista e também que a equipe está agindo com total imparcialidade.

No caso de Prost e Senna na McLaren, o rompimento da relação foi total porque, primeiro, deixaram de confiar um no outro, depois, cada um passou a suspeitar que a equipe favorecia o outro.

“Precisamos manter um nível mais alto de sofisticação e atenção aos detalhes porque há muitos elementos que precisam ser considerados,” explicou Stella. “E precisamos garantir que não tiramos conclusões apressadas – é necessário ser preciso, porque há muito em jogo – não só os pontos do campeonato, mas também a confiança dos nossos pilotos na forma como operamos como equipe". 

"E isso, se é que algo pode ser mais fundamental, é ainda mais importante do que os próprios pontos. Por isso, vamos aplicar toda a precisão que esse caso exige e ter todas as conversas que forem necessárias", concluiu. 

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