A incrível história de determinação do piloto de testes mais improvável da F1
Para qualquer piloto de Fórmula 1, terminar uma sessão a quase 13 segundos do líder seria algo para esquecer rapidamente, mas não para Chanoch Nissany
O israelense Chanoch Nissany foi escalado para fazer uma sessão de treinos livres de sexta-feira pela Minardi, no GP da Hungria de 2005. O resultado é algo de que ele continua imensamente orgulhoso.
Alguns podem zombar de seu ritmo naquele dia e sugerir que Nissany nunca foi bom o suficiente para merecer uma vaga na F1, mas fazer isso seria não entender a notável história de determinação que o levou até lá.
Para isso, é preciso voltar quatro anos antes, quando Nissany, um bem-sucedido empresário do ramo imobiliário de Budapeste, participou do GP da Hungria de 2001 como espectador.
"Comecei aos 38 anos", disse ele ao Motorsport.com. "Eu era um homem de negócios, trabalhando em um escritório, e me lembro de estar sentado na arquibancada do autódromo de Budapeste.”
"Vi a corrida e disse ao meu amigo: 'Quero ser piloto de F1'. Nunca havia sentado em um kart ou em um carro de corrida, ou qualquer coisa. E eu disse a ele: 'Quero ser um piloto'.”
"Meu amigo respondeu: 'Não há problema. Quando voltarmos para casa, você toma seu remédio e tudo vai dar certo'. Mas voltei e comecei minha carreira do zero."
O sucesso comercial de Nissany significava que ele tinha os meios financeiros para fazer a roda girar no automobilismo, com ele, eventualmente, contratando um patrocinador pessoal, como a empresa israelense de cosméticos UPEX, que o levaria até a F1.
Ele entrou no Campeonato Nacional Húngaro de Fórmula 2000 em 2002, terminando em segundo lugar naquela temporada e depois conquistou o título no ano seguinte.
Em 2003, ele começou a competir em categorias internacionais, incluindo as World Series Lights, e 2004 foi para a Fórmula 3000. Ele não estava incendiando o mundo com seus resultados, mas ainda estava no objetivo de alcançar seu sonho, que ficou mais perto quando conseguiu ser piloto de testes da Jordan.
Chanoch Nissany, Jordan Ford EJ14
Photo by: James Moy
Ele fez sua estreia em um carro da F1 em Silverstone em julho, nove segundos mais lento que o companheiro de equipe, Nick Heidfeld, depois que uma falha no motor interrompeu sua tentativa.
"Trabalhei dia-a-dia, durante 24 horas", disse ele sobre seu esforço. "Eu estava comendo, dormindo, sonhando com corridas de carros."
Em julho de 2005, a ambição de Nissany de participar de um final de semana oficial da F1 foi praticamente alcançada, quando, no Hilton Hotel em Tel-Aviv, o chefe da Minardi, Paul Stoddart, anunciou que o israelense se tornaria o piloto de teste oficial de sua equipe, e que poderia participar de alguns treinos livres.
Com as regras de superlicença da F1 muito diferentes de como é hoje, tudo o que Nissany precisava fazer para chegar a uma sessão de treinos livres era completar quilometragem suficiente em testes particulares.
E, também diferentemente de como é hoje, conseguir esses quilômetros não era um problema.
Nissany, que havia feito dois testes para a Minardi no inverno anterior, completou cinco dias completos pela equipe em Misano, Mugello e Vallelunga antes de decidir que faria a sua participação de sexta-feira que sonhava na Hungria, que coincidentemente aconteceu em seu aniversário de 42 anos.
As notícias da participação de Nissany na F1 foram grandes em Israel, jornalistas e equipes de TV foram ao Hungaroring para assistir o evento.
Um repórter especialmente ansioso perguntou a Michael Schumacher o que ele achava do teste de Nissany. O alemão, um pouco confuso, respondeu: "Tenho que me desculpar, não sei".
Chanoch Nissany, Minardi
Photo by: Rainer W. Schlegelmilch
A participação de Nissany não deu errado. Sua abordagem, um pouco cautelosa, em meio à crescente pressão de estar em um fim de semana oficial, não significou grandes marcas nos tempos, à medida que ele aumentava sua confiança.
Mas com 17 minutos para o final, Nissany errou na curva 4, rodou, foi parar na brita e sua sessão terminou. Quando o guindaste chegou para rebocar seu carro, ele ainda estava lá no cockpit. Seu dia terminou.
No final, o livro de registros mostra que Nissany encerrou a sessão de treinos livres com um tempo de 1min34s319. Isso foi quase 13 segundos mais lento que o ritmo estabelecido por Alex Wurz, da McLaren, que fez 1min21s411. Como comparação, Christijan Albers, da Minardi, fez um 1min27s540.
Enquanto ele olha agora para o que aconteceu naquele dia, não há vergonha de ele não estar no nível de Schumacher, Fernando Alonso ou Kimi Raikkonen. Apenas estar lá na pista foi a realização de um sonho improvável, e ele sabe em testes particulares que estava muito mais forte do que mostrou naquele dia.
"Olha, não esqueça que agora faz 15 anos disso", disse ele. "Eu tinha orgulho de estar em Hungaroring, sem dúvida. Foi uma ótima experiência.”
"O meu objetivo era muito claro: ser piloto oficial de Fórmula 1 e guiar um carro de Fórmula 1. E foi o que consegui fazer.”
"Sou apenas uma história especial para pessoas comuns, todo mundo que é empresário, trabalhador e tem algum objetivo ou sonho. Portanto, não diga que não é possível."
"Eu queria mostrar a todos que, aos 38 anos, se você decidir fazer algo, você pode fazer. É apenas o lado mental.”
Chanoch Nissany, Minardi
Photo by: Mark Capilitan
Nissany nunca mais apareceu em uma sessão da F1, mas participou de mais quatro dias de testes pela Minardi. Ele continuou sua carreira de piloto também, ganhando mais campeonatos na Hungria, antes de pendurar o capacete há alguns anos.
Mais recentemente, seu foco tem sido ajudar seu filho Roy a progredir na escalada do automobilismo. Ele desempenhou um grande papel no anúncio do jovem como piloto de testes da Williams.
Embora haja muita brincadeira entre pai e filho sobre suas façanhas, ambos estão cientes de que suas oportunidades na Fórmula 1 estão em extremos completamente diferentes.
Roy disse: "Eu me acho muito diferente do meu pai. Se você olhar para o histórico de sua carreira, ele foi único, estranho e especial, a partir dos 38 anos de idade.”
"Portanto, seus objetivos eram muito diferentes dos meus. Começando desde a tenra idade e entrando na F1, para levar a bandeira de Israel para lá, acho que é uma conquista incrível e se mantém por conta própria.”
É justo dizer, porém, que Nissany (pai) provavelmente está mais orgulhoso do que seu filho está fazendo ao subir a escada do automobilismo, do que do que ele conseguiu em sua própria carreira.
"Estou feliz por conseguir o que consegui", admitiu Nissany. "Mas acho que Roy pode fazer muito mais, porque nunca tive talento. Não estou na categoria dele. Só tinha, digamos, o poder mental para fazer o que fiz.”
"Mas esta geração está em outro mundo."
Chanoch Nissany
Photo by: Williams F1
Relembre imagens de Chanoch Nissany na F1
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