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Barrichello desvenda segredos da volta de apresentação

Na estréia da seção Telemetria do TotalRace, Rubens mostra o passo a passo de tudo o que o piloto faz no carro para se preparar para uma largada perfeita

Os momentos que antecedem a largada são muito importantes

 


Estreia hoje, no TotalRace, a seção intitulada TELEMETRIA. No espaço serão esclarecidas dúvidas técnicas de leitores através de engenheiros e pilotos. A honra de “acelerar” a seção é do experiente Rubens Barrichello, da Williams, que vive sua 19ª temporada na Fórmula 1.

O assunto da conversa com Rubinho é a volta de apresentação. Para muitos, o giro serve apenas para o aquecimento de pneus, com os pilotos levando o carro da direita para a esquerda, aleatoriamente. Na aula de Barrichello, fica claro que há muita coisa para se fazer. Confiram as declarações do piloto:


PRIMEIRO PASSO
 


Você faz uma simulação de largada quando começa a volta de apresentação. Todos fazem. Hoje em dia você tem de estar com limitador ligado, porque existe uma regra que você não pode passar dos 100km/h antes de cruzar a linha de chegada. Fizeram isso porque os caras que largavam em último simulavam a largada e passavam a mais de 200km/h, quando ainda tem muita gente das equipes no grid. Então aí já há um comando para desligar: o limitador. Você larga com ele, passa a linha e aperta o botão novamente.
 

Você tem outros dois botões que devem ser desligados, que são os botões que você usa para a largada. É preciso desligar porque nesta volta você tem basicamente salvar gasolina, abaixar a temperatura. Na largada você usa toda a mistura do motor, para se ter potência e usar o melhor. Se permanecer com comando ligado, gastará gasolina desnecessária.


SEGUNDO PASSO
 


Na curva 1, você tem a referência do engenheiro perguntando no rádio se os comandos necessários foram desligados. Ele também te dá o feedback se a largada foi boa ou não e o que precisa ser mudado, como embreagem. Ele ainda falará sobre a gasolina, se está boa ou não, se tenho que acelerar, andar em giro alto, giro baixo.
 


TERCEIRO PASSO
 


Dependendo da temperatura do ambiente, para você abaixar a temperatura do carro, você tem que andar em marchas altas e com regime de giros baixo. Há uma série de informações que você recebe. Temos dois minutos para checar tudo e deixar tudo pronto.
 

QUARTO PASSO
 


Existem as eventualidades. No GP da Malásia eu brinquei com meu engenheiro. Falei: “não sei o que aconteceu e agora não tem importância, mas gostaria que NÃO acontecesse mais. Você não me avisou nada”. Ele respondeu: “era tão longe, do grid até onde eu tinha que chegar, que eu tive de correr e achei que tinha falado tudo para você”. Mas ele não tinha falado. Quando eu volto ao grid, tem que estar tudo certo.
 

QUINTO PASSO
 


Eu não tenho um visor que me fala do aquecimento de pneus. Eu tenho que saber na hora que acelero para saber quanto aquece. É instintivo. Antigamente, você tinha a temperatura dos pneus marcada no volante. Mas hoje em dia, com o ECU (centralina), a caixa-preta padrão que vai para todas as equipes, você não tem tantas informações como tinha no passado.
 

SEXTO PASSO
 


Você tem que passar por todas as marchas, até a sétima, mesmo que não atinja a velocidade ideal para isso. Você precisa deixar alguns segundos em cada uma das marchas, para aprender o que eles chamam de “learn the dog”. Isso serve para que as engrenagens tenham aprendido a passagem certa, uma por uma. Toda vez que você para, existe um reset do sistema. Em algumas horas, você tem uma coisa chamada de “dog to dog”, em que os dentes batem. E você não tem uma mudança tão boa. Para a largada você quer que tudo esteja aprendido.
 

SÉTIMO PASSO
 


Você tem que deixar os freios quentes e nessa volta é muito difícil porque você anda devagar. Se eu for o primeiro, eu dito o ritmo e faço a velocidade que eu quero, do jeito que eu quero, que seja melhor para meu carro. Tem gente, por exemplo, que deve aquecer bem o freio e faz uma volta bem devagar, para os outros que não aquecem rápido sofrerem. Existem suas manhinhas.
 

Para você atingir a temperatura ideal do freio, você utiliza os pedais de acelerador e freio ao mesmo tempo. Além disso, precisa dar umas freadas bruscas também, porque só isso não dá o pico. O freio a carbono só chega na temperatura ideal muito alto. Os freios quando tudo funciona bem estão acima de 550º C. Quando você começa a volta, eles estão com baixa temperatura. Eles chegam a 200º rapidamente, mas de 200º a 550º você tem de aquecer bastante.
 


Existe uma regra de comportamento na volta dada pela FIA. Não pode dar um buraco muito grande. Você tem que acompanhar o da frente. Isso é fácil. Já aconteceu, acho que o Michael (Schumacher), que bateu no Montoya, e isso ocorre em momento de distração, além do cara dar aquela baita parada que você não está esperando. Mas isso não aconteceu mais.
 

NONO PASSO
 


O telespectador pode reparar que existem dois jeitos de aquecer pneus. Um é suave e o piloto leva o carro da esquerda para a direita. A outra é uma patinada forte. A patinada é para aquecimento de pneu traseiro. O geral é para os quatro pneus. A patinada depende se você precisa de mais ou menos aquecimento. Você já viu rodada, inclusive, na patinada. O Alonso, um dos mais agressivos em aquecer pneus, já rodou umas duas vezes. A execução da patinada é na manipulação do volante mesmo. Basicamente, é isso que se faz em uma volta de apresentação.

Arte: Leonardo Nelli Dias (LEOART Design & Comunicação)

In this article
Felipe Motta
Fórmula 1
Rubens Barrichello
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