F1: Alpine pode enfrentar desafios após ‘extinção’ do cargo de chefe de equipe; entenda
Responsabilidades serão divididas entre diretor executivo Marcin Budkowski e novo diretor de corridas Davide Brivio
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Neste ano, Marcin Budkowski e Davide Brivio irão compartilhar na Alpine a responsabilidade de administrar a organização. Mas uma equipe de Fórmula 1 pode operar com sucesso sem um chefe claro na função tradicional de principal do time?
Até que sua saída fosse anunciada em janeiro, Cyril Abiteboul era o centro das atenções da Renault. Esperava-se que ele assumisse um cargo como chefe geral da Alpine Cars, tendo trabalhado no projeto - junto com suas obrigações na F1 - desde julho.
No entanto, o organograma revisado da equipe coloca Budkowski e Brivio reportando-se ao novo CEO da Alpine Cars, Laurent Rossi.
Nenhuma organização de um time da F1 é composta por uma pessoa, e todas têm várias camadas de gerenciamento, envolvendo especialistas em seus próprios campos.
Na McLaren, Andreas Seidl atua como chefe de equipe, mas seu superior e CEO Zak Brown assume responsabilidades maiores para a empresa. Na Williams, há um acordo semelhante, com Simon Roberts comandando a equipe, mas reportando-se ao CEO Jost Capito, que cuida dos interesses mais amplos dos acionistas.
Por outro lado, Toto Wolff, Christian Horner, Mattia Binotto, Gunther Steiner, Fred Vasseur, Franz Tost e Otmar Szafnauer respondem aos proprietários.
Na Alpine, Rossi atua como um elo entre Budkowski e Brivio, abaixo dele, e o CEO do Grupo Renault, Luca de Meo, acima.
Rossi teve uma carreira interessante. Ele começou como engenheiro da Renault, mas saiu para ingressar em uma empresa de consultoria de gestão, focada principalmente em projetos automotivos.
Depois de um período no Google, ele voltou para a Renault em 2018 em uma função sênior de estratégia e desenvolvimento de negócios.
Laurent Rossi, Alpine Chief Executive Officer
Photo by: Alpine
Isso, por sua vez, o levou ao emprego na Alpine que Abiteboul esperava obter. Supervisionar a equipe de F1 e a divisão de unidades de potência na França é apenas parte das responsabilidades de Rossi, já que sua principal função é construir a marca.
“Marcin será o responsável pelo desenvolvimento do chassi e do trem de força, então coordenará todo o desenvolvimento do carro. Davide será o diretor de corrida", explicou ele.
"Portanto, os dois trabalharão em conjunto para extrair o melhor do carro que foi projetado em Enstone para colocá-lo na melhor posição possível no futuro."
A filosofia de Rossi é delegar aos candidatos mais qualificados: “É ter gente forte ao seu redor. Esse é o meu aprendizado na vida, que você não faz nada sozinho."
“Para ser resiliente em qualquer ambiente, você precisa de habilidades, de resistência, de muitas qualidades. A F1 está excepcionalmente sob pressão. Você precisa de uma equipe forte."
“E é por isso que pensamos em ter Davide. Ele tem experiência comprovada em gerenciar equipes e campeonatos sob pressão, então isso vai ajudar o time rapidamente."
"E então, é claro, começando com Marcin, mas irradiando para Enstone e Viry, temos pessoas extremamente habilidosas no comando, desenvolvendo nosso carro."
"É disso que você precisa. Basicamente e modestamente, estou gerenciando todas essas pessoas em direção a um simples (objetivo), mas fornecendo a elas todo o suporte, seja logístico, material ou, às vezes, espero, intelectual."
"Cerque-se realmente dos grandes, é assim que você prospera. E é isso que espero estar fazendo."
Budkowski, que ingressou na Renault em 2018 como diretor executivo, desempenhou um papel cada vez mais influente ao lado de Abiteboul.
Seu currículo inclui cargos seniores na Ferrari e McLaren, e uma passagem pela FIA, onde teve uma perspectiva muito diferente sobre o esporte - antes de decidir que queria voltar para uma equipe e assumiu o cargo de gerenciamento da Renault . Ele aprendeu muito ao longo do caminho, principalmente na Scuderia.
"Tive muita sorte de fazer parte de uma era na Ferrari sob o comando de Jean Todt, com Ross Brawn, Rory Byrne, Michael Schumacher, com todos esses grandes nomes", disse Budkowski.
“Era uma função completamente diferente na época, eu era um engenheiro, estava contribuindo para o desenvolvimento do carro", explicou.
“Agora estou muito mais em uma posição de gestão e contribuindo para o desempenho da organização do que do carro em si. Certamente fazer parte de uma organização tão bem-sucedida, que dominava o esporte na época, é algo que a gente lembra."
"Você se lembra de algumas coisas que estávamos fazendo certo, e certamente isso é algo em que busco inspiração para o meu papel de gerenciamento a fim de tentar construir uma equipe tão forte quanto a que tínhamos na época."
Marcin Budkowski, Executive Director, Alpine F1
Photo by: Mark Sutton / Motorsport Images
Budkowski sua divisão com Brivio como algo lógico, dado o calendário mais movimentado de 2021, o enorme desafio de criar um novo carro para 2022 e os contínuos problemas logísticos criados pela Covid-19.
“Em termos de responsabilidades, estou baseado em Enstone há três anos”, disse.
“Continuo administrando Enstone e todos os departamentos que estão envolvidos na equipe de corrida lá."
"E depois tem o lado da corrida, na pista e gerenciamento do piloto, que fica com Davide."
“Temos uma base no Reino Unido e uma base na França. Temos 23 corridas, potencialmente 25 no futuro, as restrições da Covid-19 significam potenciais quarentenas, etc. Sinceramente, nessas condições, gerenciar uma equipe e ir a todas as corridas é muito, muito difícil."
A contratação de Brivio, ex-chefe da Suzuki, é uma jogada intrigante da Renault. No entanto, talvez não seja tão incomum quanto alguns possam pensar.
A McLaren deu um golpe de mestre ao olhar além da F1 e recrutar Andreas Seidl, um homem com um conjunto impressionante de habilidades, aperfeiçoado recentemente no WEC (Campeonato Mundial de Endurance).
Jean Todt fez seu nome no rally e nos carros esportivos antes de ingressar na Ferrari, enquanto David Richards (na BAR e Benetton) e Ove Andersson (Toyota) também foram do mundo do rally para a F1 - assim como o atual chefe da Haas, Gunther Steiner.
Brivio ressaltou que seu foco é a gestão da equipe itinerante.
“Decidimos por esse tipo de organização, onde basicamente as funções são divididas entre as operações de Enstone e a operação do circuito”, disse.
“E hoje em dia também é bastante difícil, porque, com 23 corridas e também quando se quer melhorar a organização, é preciso estar muito focado em todos os lados para fazer a equipe crescer, em todos os aspectos."
"Então decidimos nos separar. Claro, ter Marcin em sua função é muito útil para mim, e ele fez um ótimo trabalho na organização e gerenciamento de todas as instalações em Enstone."
“O meu papel é ser responsável pelo que acontece na pista, no circuito. Por isso, estaremos aqui para o final de semana de corrida para nos certificarmos de que temos tudo o que precisamos para desempenhar, para garantir que os pilotos estão felizes, confortáveis , e que eles têm o que precisam, e é claro, ouvir seus pedidos, suas reclamações."
"Portanto, é uma grande responsabilidade. E, claro, uma grande pressão. E o que queremos fazer é sermos eficientes em todos os aspectos e em todas as situações, tanto em casa como no circuito. Essa é a ideia."
Davide Brivio
Photo by: Gold and Goose / Motorsport Images
Brivio observa que na Suzuki, uma operação muito menor, esteve diretamente envolvido em todas as áreas - algumas das quais não encontrará na Alpine.
“Na Suzuki, a organização era menor. Aqui eles são muito bem organizados, cada setor individualmente. Antes eu também era operacional, (além de) ser responsável. Aqui você pode contar com uma equipe operacional muito boa e escritórios organizados."
“Eu faço parte da gestão, e como gestão, junto ao Laurent e ao Marcin, temos a responsabilidade de administrar a operação. Na hora de tomar decisões, de fazer estratégias, é aí teremos que estar preparados”.
Então, como o novo arranjo funcionará? Nem a Alpine sabe disso ainda, já que a pré-temporada no Bahrein foi a primeira chance de Brivio de fato dar uma olhada.
Um início de temporada positivo e competitivo obviamente ajudará a aumentar a confiança na nova estrutura. Em contraste, algumas corridas problemáticas irão testá-la.
Talvez o maior desafio que Brivio enfrente seja administrar Fernando Alonso.
"Acho que ele é um cara muito normal", disse Brivio sobre Alonso.
“Ele está extremamente motivado, extremamente disposto a encontrar e juntar tudo o que for necessário para tirar o melhor do carro, o melhor da equipe."
“Ele está voltando, e não está voltando só para guiar. Está voltando para tentar obter bons resultados, e é muito exigente, mas é disso que eu gosto."
“Precisamos desse tipo de piloto, que está realmente interessado em tentar o máximo, então eu agradeço esse tipo de atitude, esse tipo de abordagem."
"E, claro, teremos que tentar trabalhar juntos da melhor forma possível para usar suas habilidades e seu potencial", concluiu.
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