"Estava em paz, pensando que ia morrer": Grosjean faz relato emocionante sobre acidente
Segundo o francês, para ele, tudo passou muito mais devagar do que foi na realidade
Próximo de completar uma semana de seu grave acidente no GP do Bahrein de Fórmula 1, o piloto da Haas, Romain Grosjean, deu um relato completo de sua saída de dentro do carro em meio às chamas, revelando que, em alguns momentos, ele temeu por sua vida.
O francês bateu ainda na primeira volta do GP, após uma mudança brusca de trajetória e um toque com Daniil Kvyat, que o mandou em cheio no guard-rail, com seu carro partindo ao meio e pegando fogo imediatamente.
Grosjean disse que, inicialmente, ele não havia notado que o carro estava pegando fogo na primeira vez que tentou sair de dentro, mas que enfrentou dificuldades para sair, porque estava preso nos primeiros instantes.
"Pra mim, não foram 28 segundos, parecia mais um minuto e meio", disse Grosjean em entrevista à imprensa. "Quando o carro parou, eu abri os olhos e soltei o cinto de segurança imediatamente. O que eu não lembrava nos primeiros dias era o que eu havia feito com o volante, porque eu não me lembro de ter retirado ele".
"A equipe disse que não, que ele caiu no meu colo, porque a barra de direção e tudo mais havia se quebrado. Eu não tive que lidar com ele, então, eu tentei pular fora. Mas senti que havia algo tocando minha cabeça, então sentei novamente no carro e meu primeiro pensamento foi de esperar. Eu estava preso contra o muro e vou esperar até que alguém venha me ajudar".
Grosjean disse que, nesse momento, ele havia achado que o pior estava para trás, mas só notou o fogo na sequência.
"Eu não estava angustiado e, obviamente, não sabia do fogo. Aí eu olhei para os lados e vi, à minha esqueda, o fogo. Então, disse para mim mesmo que não tinha como esperar".
"Meu próximo passo foi tentar ir um pouco para a direita e isso não deu certo. Tentei me mexer para a esquerda e nada também. Eu sentei e comecei a lembrar de Niki Lauda e seu acidente e pensei que não poderia acabar assim. Essa não poderia ser minha última corrida. Não poderia acabar assim. Então eu tentei de novo. Mas estava preso".
A fire marshal extinguishes the flames after a huge crash for Romain Grosjean, Haas VF-20, on the opening lap
Photo by: Andy Hone / Motorsport Images
Segundo Grosjean, esse foi o momento mais difícil para ele, pode sentir brevemente seu corpo relaxando e ele começando a questionar se conseguiria sair com vida ou o quanto ele sofreria com aquilo.
"Eu voltei para o lugar e tive um momento em que meu corpo começou a relaxar. Eu estava em paz comigo mesmo e pensei que iria morrer. Comecei a me perguntar se o fogo queimaria minha sapatilha, meu pé ou minha mão, se doeria e quando que isso iria começar".
"Pra mim, isso durou uns três ou quatro segundos. Mas aí pensei nos meus filhos, que eles não podiam perder o pai hoje. Então são sei porque fiz isso, mas decidi virar meu capacete para a esquerda e tentar sair mexendo com meu ombro. E isso funcionou".
"Mas aí percebi que meu pé estava preso no carro. Eu sentei de volta, puxei o mais forte que podia a perna esquerda. A sapatilha ficou, mas o pé veio. E aí tentei sair de novo e vi que conseguiria pular fora. Eu tinha as minhas duas mãos no meio do fogo naquele momento".
"Minhas luvas são vermelhas mesmo e vi que, principalmente a esquerda, havia mudado de cor, começado a derreter e ficado preta. Eu comecei a sentir a dor na minha mão por conta do fogo, mas também senti alívio por estar fora".
"Eu pulei fora, fui até a barreira e senti Ian [Roberts, médico da F1] me puxando pelo macacão. Então sabia que não estava mais sozinho".
"Quando eu pisei no chão e eles me tocaram, eu pensei, 'não, eu sou uma bola de fogo humana'. Eu tinha aquela imagem na cabeça do vídeo da FIA, de um teste para provar a confiabilidade do macacão. Eu tinha aquela imagem comigo na cabeça".
"Aí eu mexi com a minha mão, que doía muito por conta do fogo. Eu tirei a luva imediatamente porque achei que estaria cheia de bolhas e a pele ia ficar grudada. Imediatamente eu tirei e vi que isso não aconteceu".
"Aí Ian vem até mim e fala para eu sentar. Eu fiquei bravo e pedi para ele falar comigo normalmente e, pelo jeito, ele entendeu que eu estava bem naquele momento. Sentamos e estávamos próximos do fogo, eu ouvia os fiscais usando os extintores e falando que a bateria estava pegando fogo".
"Fomos até o carro médico. Sentei e eles colocaram compressas frias na minha mão. Eu disse a eles que elas estavam queimadas e meu pé, quebrado. Mas aí a dor começou a aumentar demais, especialmente no pé esquerdo. Minhas mãos estavam ok naquele momento, mas o pé doía demais".
Romain Grosjean, Haas F1, is taken away on a stretcher after his opening lap crash
Photo by: Andy Hone / Motorsport Images
Com a ambulância a caminho, disseram a Grosjean que ele seria levado de maca, mas ele desafiou Roberts, dizendo que queria andar até o carro médico para mostrar ao mundo que suas lesões não eram sérias.
"Ian me disse que a ambulância estava vindo e eles iam me levar de maca, que tudo ficaria bem para mim. Mas eu disse que não, vou andando até a ambulância. E eles não queriam isso, mas acabaram cedendo e me ajudaram".
"No lado médico, não foi a decisão ideal, mas eles entenderam a importância disso para mim, mostrar que eu estava andando e que tudo estava bem. Precisava mandar essa mensagem forte a todos".
"Após isso, todas as vezes que eu encontrava alguém, dizia apenas que tinha queimaduras nas mãos e um pé quebrado. Era só isso que eu conseguia dizer. Obviamente estava assustado e queria que todos que vinham me tratar soubessem o que estava passando comigo".
"Essa é a história completa dos 28 segundos. Como vocês podem imaginar, levou mais que 28 segundos para mim, com os pensamentos na cabeça".
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