Di Grassi levanta dúvidas sobre projeto de levar Fórmula E ao Rio
Ao Motorsport.com, piloto da Audi aponta condições econômicas como obstáculos para a realização da prova no Brasil
O presidente Jair Bolsonaro assinou carta de intenção para trazer a Fórmula E ao Rio na próxima temporada e o principal articulador é Nelsinho Piquet, primeiro campeão da categoria e atualmente na Stock Car. Já outro piloto tem dúvidas sobre o projeto: Lucas di Grassi.
Idealizador do campeonato, detentor de um título e competidor da Audi, o paulistano apontou as dificuldades de se realizar eventos de automobilismo no País nos últimos anos. O ex-Fórmula 1 citou a própria F-E como exemplo, apesar do interesse da categoria.
"A F-E trocou de CEO e ele deixou claro que um dos mercados principais no mundo é o Brasil. Já houve discussões e até já assinamos contratos com o Rio, que foi uma das primeiras pistas anunciadas na história da F-E, no aterro do Flamengo. Mas não deu certo", lembrou.
"Também teve um anúncio em São Paulo, mas o contrato foi cancelado. Estamos sempre tentando trazer a F-E. Nos dois processos, eu ajudei a negociar e a desenhar as pistas. Houve também uma possibilidade em Belo Horizonte, perto do estádio do Mineirão, mas não vingou".
"No Rio, o que eu sei é que foram retomadas as negociações. Mas, hoje em dia, o Rio talvez seja um dos lugares mais difíceis para se fazer eventos no Brasil, pela própria situação do estado e da cidade", afirmou di Grassi, mencionando os problemas orçamentários na região.
Segundo o piloto, a F-E é categoria de elite do automobilismo mundial mais viável no País neste momento. Entretanto, apesar do potencial retorno sobre o investimento, o paulistano pondera que a falta de dinheiro público e a estagnação da economia privada são obstáculos.
Quem paga?
"Na F-E, sei que existe o interesse e que há conversas. Inclusive, o Ministro do Turismo teve uma reunião com Jean Todt [presidente da FIA]. O problema é: quem paga? Se fizer contrato, precisará levantar uma alta quantia em dinheiro, anunciar e correr atrás de patrocínio".
Para di Grassi, aí que está o desafio: "Os patrocínios não aparecem, pois hoje é muito mais difícil do que imaginam no automobilismo. Então o promotor fecha contrato, não consegue levantar capital e, na hora de pôr dinheiro que ele tem que tirar do bolso, cancela o evento".
Sobre investimento público, o piloto respondeu: "O Estado tem que ser enxugado, pois há dívida. Os entes públicos tentam arrumar, mas o processo é longo. A situação é de enxugar gastos supérfluos. Uns dão retorno, mas são supérfluos. É difícil, então, achar quem pague".
Ainda assim, di Grassi vê uma possibilidade remota: "A F-E, dentre as categorias top, é a mais fácil, do ponto de vista de patrocínio, para viabilizar. É sustentável, cresce, e tem montadoras e patrocinadores. Além disso, a relação custo-benefício é boa, por isso as cidades querem".
"Por isso, acho que a F-E tem uma certa chance. Tem várias montadoras e todas elas têm interesse no mercado brasileiro, então tem uma motivação por trás e a F-E é relativamente barata. Ela tem nove montadoras e não é cara. A F1 tem três montadoras e é uma fortuna", afirmou o piloto. Neste sábado, di Grassi disputa o ePrix do Chile, segunda etapa da temporada 2019/2020. Na Arábia Saudita, o paulistano ficou em segundo na corrida 2.
A saga brasileira na Fórmula E
O Brasil não faz parte do calendário da Fórmula E na temporada 2019/2020. O Chile é o único representante sul-americano no atual campeonato. Já tentamos receber a categoria em algumas oportunidades, mas as tratativas não foram adiante. Relembre o histórico:
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