Único piloto negro da NASCAR Cup, Bubba Wallace fala sobre racismo e morte de Floyd: "Quando que isso vai acabar?"
Único piloto negro do grid da Cup Series, Bubba falou sobre racismo e como abraçou seu papel de formador de opinião sobre o tema
As últimas duas semanas foram marcadas por protestos nos Estados Unidos e no mundo devido à morte de George Floyd em Minneapolis, no estado americano do Minnesota. Os quatro policiais envolvidos no caso foram demitidos e acusados. E o mundo do esporte a motor passou a se manifestar nos últimos dias, falando sobre o caso e o racismo.
Bubba Wallace, único piloto negro na Cup Series, a principal categoria da NASCAR, usou suas redes sociais recentemente para falar sobre a injustiça racial e o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
Na quarta, ele falou com seu ex-companheiro de NASCAR, Dale Earnhardt Jr, no podcast do piloto. Bubba disse que seu telefone não sossegava, com as pessoas do esporte falando sobre esses assuntos. Ele também disse que aprendeu a abraçar seu papel de influenciador e a voz que ele tem, uma função que ele tinha certa relutância em assumir.
"Uma coisa que você não aprende dentro do esporte é a pressão que isso traz fora das pistas. É como você se comporta em assuntos assim", explicou.
"Durante todo esse caos que está acontecendo no mundo, todos os homens e mulheres negros que eram mortos, eu estive em silêncio", continuou. "Eu li sobre todos eles e fiquei em silêncio. Eu sentia que não era meu lugar de fala, e foi um grande erro".
A perspectiva do piloto mudou quando ele viu vídeos do assassinato de Ahmaud Arbery, um homem negro desarmado morto no início de maio enquanto corria por uma rua no estado da Geórgia.
"Eu fiquei arrasado quando vi aquele vídeo. Fico emocionado toda vez que me lembro dele, vendo como que um homem negro desarmado que estava correndo pela rua foi caçado por dois civis armados e foi morto em plena luz do dia, e o outro cara que filmava estava com uma arma carregada pronto para fazer o mesmo".
"Eu fiquei pensando em que tipo de mundo vivemos onde caçamos e matamos pessoas porque achamos que, por ser negro, ele está aterrorizando a vizinhança e merece ser morto? Como assim? Eu não vejo como que as pessoas podem pensar algo do tipo".
"Foi onde eu comecei a ver que eu precisava mudar de ideia e vocalizar o que eu pensava".
Wallace disse que conversou com sua namorada, Amanda, na manhã seguinte após ver o vídeo.
"Quando nós conversamos eu ainda estava chocado. Obviamente nós sofremos com isso e superamos, e aí você vê o incidente com George Floyd e você fica 'Deus, quando que isso vai mudar, quando que isso vai acabar?'. Eu não sei o que vai mudar ou como que vai mudar, mas eu aceitei meu novo papel, o papel que eu já deveria ter aceitado antes, de falar sobre isso".
Em seguida, Wallace se emocionou. "Eu não sei o que fazer. Eu me sinto desamparado. Eu já sofri racismo e compartilhei essas histórias... é um momento triste que vivemos onde eu não sou aceito por causa da cor da minha pele. Eu simplesmente não entendo".
"É difícil. Eu já fiquei muito bravo com isso. Já corri várias vezes cheio de raiva por causa de tudo que acontecia no mundo".
Mais cedo nesse ano, o piloto da NASCAR, Kyle Larson, foi demitido da Chip Ganassi e suspenso da categoria por usar um insulto racial durante uma prova virtual.
"Esse doeu em mim, porque foi dentro do nosso esporte, e olha que ele não era direcionado a mim, mas me acertou mesmo assim. Eu estou logo ali".
"Eu estava envolvido e mesmo assim não fiz nada. Esse momento representou um retrocesso do esporte. Ele sabe disso, o esporte sabe disso e os fãs sabem disso".
Wallace também dividiu outros episódios onde sofreu racismo e discriminação, e compartilhou inclusive a história de seu primo, que foi morto por policiais em 2003, quando estava desarmado".
"Eles tinha recém-saído de algum lugar, um jogo de futebol acho. Eles foram para um posto de gasolina em Knoxville, Tennesse. Ouvindo música alta, tinha uma multidão ali, era um ponto de encontro, mas a gerente da loja, que era branca, se sentiu ameaçado porque havia ali uma grande quantidade de negros e achou que algo ruim iria acontecer".
"Então ela ligou para a polícia e um policial pediu que meu primo, Sean, colocasse as mãos para cima, e ele atendeu. Quando o policial saiu dali, ele foi pegar o telefone para ligar para sua mãe, porque ele estava com medo. Outro policial atirou nele, e ele morreu".
"Eu não entendi isso. Perdemos um membro da família. Mas agora, vendo esse ciclo se completando, eu entendo isso".
Um juiz absolveu o policial envolvido na morte do primo do piloto.
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