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Fórmula 1 GP da Hungria

Dez anos após acidente na Hungria, Massa nega piora na pilotagem

"Ninguém nunca me disse que eu não era mais o mesmo. Lógico que eu fui muito criticado na imprensa, porque depois do meu acidente eu não ganhei. Mas passei perto"

Felipe Massa é levado ao hospital após acidente

Nesta quinta-feira, o acidente que feriu Felipe Massa gravemente em 2009 completa exatos 10 anos. Durante o treino classificatório do GP da Hungria de Fórmula 1 daquele ano, o brasileiro foi acertado em alta velocidade por uma mola que havia se desprendido da Brawn de Rubens Barrichello.

Em entrevista exclusiva ao Motorsport.com, Massa fala sobre o drama vivido na época e destaca os fatores por trás de seu retorno, desde o apoio da família às dificuldades de voltar ao volante da Ferrari.

Além do acidente do brasileiro, aquela etapa também ficou marcada por uma série de acontecimentos importantes. Recordes e marcas pessoais foram quebrados em Budapeste em 2009. Entretanto, tudo acabou ofuscado pelo acidente de Massa, mas relembramos os principais fatos em galeria especial no fim desta matéria.

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A temporada 2009

A temporada de 2008 havia acabado com Massa em alta na categoria. O brasileiro venceu a última prova do ano, no Brasil, e chegou a ser avisado de que havia vencido o título mundial. Entretanto, Timo Glock escorregou na chuva na última curva de Interlagos e foi ultrapassado por Lewis Hamilton, que aumentou sua pontuação e 'roubou' o título do brasileiro.

Em 2009, a F1 passou por profundas modificações e as equipes de ponta ficaram para trás da surpreendente Brawn GP e da emergente Red Bull. Ao longo do ano, Ferrari e McLaren se recuperaram. Quando a equipe italiana estava prestes a voltar a brilhar, Massa sofreu o acidente em Budapeste. 

O acidente

 

Durante o treino classificatório para GP da Hungria, uma mola se desprendeu do carro de Rubens Barrichello e colidiu a mais de 150km/h com o capacete de Massa, que entrou em choque e perdeu a consciência instantaneamente. O carro seguiu direto por uma curva e se chocou contra a barreira de pneus.

O então piloto da Ferrari foi socorrido de helicóptero e levado para o hospital militar de Budapeste, onde recebeu tratamento. Massa ficou nove dias internado e passou por duas cirurgias. Ele chegou a ficar dois dias em coma induzido e, após receber alta, precisou passar por mais uma cirurgia plástica para recuperar a área do crânio que foi atingida pela mola. 

Vida que segue, novas perspectivas

Massa falou com exclusividade ao Motorsport.com nesta semana. Perguntado sobre o dia do acidente, ele disse: "Sou muito grato por aquele ter sido o meu dia, graças a Deus". A declaração pode surpreender, mas ele explicou.

"Muita gente fala que foi falta de sorte, mas eu acho que, se você olhar para o que aconteceu, por um lado eu tive azar, porque a mola foi parar bem na minha cabeça, mas eu tive muita sorte também, porque hoje eu estou aqui vivendo a minha vida, com muita saúde, e tenho a alegria de ter a minha família".

O brasileiro comentou ainda como as pessoas mais próximas reagiram ao acidente. Ele descartou que o assunto seja um tabu para ele ou para a família. "As pessoas mais próximas, a Rafaela (esposa), meus pais, irmãos e amigos, sofreram muito mais do que eu sofri. Eles viram o acidente e eu não vi nada do que aconteceu. A Rafaela estava grávida de seis meses do Felipinho, então ele também não viu nada", disse Massa. "Mas esse assunto não é um tabu na família".

"A gente agradece muito a Deus, porque eu ainda estou aqui, vivendo com eles. Eu sou católico e rezo todos os dias, pedindo por saúde para mim e para minha família. Apesar de não ir à Igreja com frequência, sempre que passo em frente, entro e acendo uma velinha para agradecer".

Perguntado se, após o acidente, alguém lhe disse que não era mais o mesmo de antes, Massa negou, destacando que as críticas mais ácidas vieram da imprensa. Ele garantiu que a falta de vitórias não tem relação com o acidente, mas com a falta de carros competitivos.

"Ninguém nunca me disse que eu não era mais o mesmo. Lógico que eu fui muito criticado na imprensa, porque depois do meu acidente eu não ganhei mais nenhuma corrida na Fórmula 1. Mas eu passei perto várias vezes".

"Infelizmente me tiraram a vitória na Alemanha, na corrida que aconteceu exatamente um ano depois do meu acidente, no dia 25 de julho de 2010. Este foi um dos dias mais triste da minha vida. Depois disso, eu vivi um período diferente, porque eu não tive mais um carro competitivo para estar disputando as vitórias como eu fazia antes".

"Eu não sinto que algo tenha mudado, no sentido de como eu era antes e como eu sou hoje. O que eu posso dizer é que hoje eu respeito muito mais a vida. Tanto a minha como a das outras pessoas. Porque você nunca acha que vai acontecer alguma coisa, mas quando acontece, você dá muito mais valor à vida. Eu dou muito valor à minha, 100%, e agradeço todos os dias por ela".

"E tomara que tenha muito chão ainda pela frente, para continuar curtindo a minha vida e guiando, que é o que eu gosto de fazer, mas com muita proteção e saúde, que é o mais importante", completou o brasileiro.

Acidente eclipsou um GP marcante para a F1

Quando se fala de Hungria-2009, a primeira coisa que vem à mente de muitos é justamente o acidente de Massa. No entanto, aquele fim de semana foi muito significativo para a história da categoria também por muitos motivos.

Entre os destaques, está a primeira vitória de um carro equipado com o sistema de recuperação de energia cinética, o famoso KERS. Além disso, vários tabus e marcas foram superadas, tais como a estréia do piloto mais jovem da história, a última pole de Fernando Alonso pela Renault, e a primeira vitória de Hamilton depois de seu primeiro título. A lista é grande, então resumimos tudo em uma galeria especial para você. Confira abaixo:

Felipe Massa, Ferrari
A temporada tinha começado mal para a Ferrari, que havia sido campeã de construtores em 2008 e vice-campeã no mundial de pilotos. A equipe havia focado suas energias no mundial do ano anterior, enquanto os times menores concentraram esforços em 2009.
Lewis Hamilton, McLaren Mercedes
O mesmo aconteceu com a McLaren, que gastou sua 'munição' para fazer Lewis Hamilton o campeão mundial de 2008. O britânico superou o brasileiro por 1 ponto para ficar com o título.
Rubens Barrichello, Brawn GP
Isso abriu espaço para que a Brawn GP, equipe recém criada a partir da desistência da Honda, dominasse o início do mundial, seguida de perto pela Red Bull. Jenson Button e Rubens Barrichello eram os pilotos do time.
Felipe Massa, Scuderia Ferrari
Ao chegar na Hungria, Massa e a Ferrari viviam um momento de recuperação no campeonato. O brasileiro foi terceiro na corrida anterior na Alemanha e haviam grandes expectativas para Budapeste.
Jaime Alguersuari, Scuderia Toro Rosso
A primeira curiosidade do fim de semana na Hungria foi a estréia de Jaime Alguersuari na Toro Rosso, substituindo Sébastien Bourdais, demitido após o GP da Alemanha.
Jaime Alguersuari, Scuderia Toro Rosso
O espanhol se tornou o piloto mais jovem a participar de uma prova de Fórmula 1, aos 19 anos e 125 dias. Recorde batido apenas em 2015 por Max Verstappen, que estreou na F1 aos 17 anos de idade.
Mark Webber, Red Bull Racing
Naquele fim de semana, o australiano renovou contrato com a Red Bull, após vencer pela primeira vez na carreira na prova anterior, na Alemanha.
Felipe Massa, Ferrari
Durante a segunda parte do treino classificatório, uma mola se desprendeu do carro de Barrichello e atingiu o capacete de Massa em alta velocidade.
Felipe Massa, Ferrari
O brasileiro perdeu a consciência e bateu contra a barreira de pneus, ainda pisando no acelerador.
A Ferrari de Felipe Massa depois do acidente
Massa ficou dois dias em coma e passou por duas cirurgias na cabeça, pois a mola quebrou parte do crânio do brasileiro, logo acima do olho esquerdo.
Felipe Massa é levado ao hospital após acidente
Seu acidente levantou questões sobre a necessidade de os cockpits serem cobertos, pois dias antes Henry Surtees havia sofrido um acidente fatal na F2 por conta de um detrito de um acidente ter acertado sua cabeça.
Felipe Massa é levado ao hospital após acidente
Massa teve alta do hospital militar da Hungria nove dias depois e voltou a correr apenas em 2010.
Rubens Barrichello, Brawn GP
Com um problema no carro, Barrichello ficou de fora do Q3. Foi a primeira vez no ano que um carro da Brawn GP ficou de fora do top-10. A equipe acabaria o ano como campeã de construtores e de pilotos, com Button.
Fernando Alonso, Renault F1 Team
Fernando Alonso anotou a pole position naquele sábado. Foi a última vez que uma Renault largou na primeira posição de uma prova na F1.
Fernando Alonso, Renault F1 Team, Sebastian Vettel, Red Bull Racing
A pole position também teve um sabor especial para Alonso, que não largava da posição de honra desde o GP da Itália de 2007.
Desde 2005
Foi a primeira vez desde o GP dos Estados Unidos de 2005 que a F1 teve menos que 20 carros no grid de largada. Naquela ocasião, apenas 6 carros largaram porque as demais equipes optaram por não correr em virtude de um problema com os pneus Michelin.
Desde 2002
Foi também a primeira vez que a Ferrari largou com um carro a menos, desde o GP da França de 2002, quando o time não conseguiu resolver a tempo um problema no carro de Barrichello.
Mensagem para Felipe Massa
O domingo foi repleto de homenagens a Felipe Massa, que naquele momento estava internado por conta do acidente.
Torcedores prestam tributo a Felipe Massa
Os fãs presentes na Hungria também demonstraram carinho pelo brasileiro. Várias faixas foram vistas nas arquibancadas.
Fernando Alonso, Renault F1 Team
Se o sábado foi de alegria para Alonso, o domingo foi frustrante. Logo no início da prova, o espanhol precisou abandonar. Foi seu primeiro abandono em quase um ano.
Nelsinho Piquet, Renault F1 Team
O GP da Hungria foi o último disputado por Nelsinho Piquet na Fórmula 1. O brasileiro, que completou a prova em 12º, disputou ao todo 28 provas na categoria, tendo um pódio no GP da Alemanha de 2008 como melhor resultado.
Rubens Barrichello, Brawn GP
Após um fim de semana problemático, Barrichello ficou fora da zona de pontuação na corrida. Foi a primeira vez no ano que um carro da Brawn GP ficou de fora dos pontos após completar uma prova.
Jenson Button, Brawn GP
O fim de semana também não foi dos melhores para Button, que terminou a prova na sétima posição. O pior resultado do inglês no ano até aquele momento. Button terminou a temporada como campeão mundial.
Kimi Raikkonen, Scuderia Ferrari
O homem de gelo terminou a prova na segunda posição, o melhor resultado da Ferrari até aquele momento em 2009. Dizem que Massa, ao saber do resultado no hospital, lamentou não ter corrido, pois acreditava que poderia ter vencido a prova, já que havia superado o finlandês ao longo da temporada.
Lewis Hamilton, McLaren Mercedes
Quem ficou com a vitória foi Lewis Hamilton. O triunfo teve um gosto especial para o britânico. Foi a primeira vez que ele venceu uma prova após ser campeão mundial.
Lewis Hamilton, McLaren Mercedes
Foi também o melhor resultado da McLaren no campeonato até aquele momento. Hamilton havia ficado de fora dos pontos nas cinco provas que antecederam sua vitória, e não subia ao pódio desde 2008.
Lewis Hamilton, McLaren Mercedes, Kimi Raikkonen, Scuderia Ferrari, Mark Webber, Red Bull
Além disso, foi a décima vitória na carreira do inglês, que triunfou pela segunda vez na Hungria, sendo o primeiro a repetir vitória na pista de Budapeste em 8 anos. Hamilton nunca havia vencido duas vezes na mesma pista.
McLaren MP4-24 2009, KERS
Foi a primeira corrida vencida com um carro equipado com o sistema de recuperação de energia cinética (KERS), a tecnologia pioneira dos carros híbridos na F1. Como a Ferrari também usava o dispositivo, foi uma dobradinha da novidade.
Michael Schumacher, Scuderia Ferrari
Alguns dias após a corrida, a Ferrari anunciou Michael Schumacher como substituto de Massa. Mas logo em seguida precisaram voltar atrás, pois o alemão não havia se recuperado fisicamente de um acidente que sofreu ao testar uma Honda da MotoGP.
Luca Badoer, Scuderia Ferrari
A Ferrari então anunciou o italiano Luca Badoer como substituto de Massa. Foi o primeiro italiano a guiar um carro da equipe na F1 desde o GP de San Marino de 1994.
Luca Badoer, Scuderia Ferrari
Com o retorno de Badoer, que não disputava uma corrida desde o GP do Japão de 1999, o italiano virou dono da marca de segundo maior intervalo entre duas provas. Foram 9 anos, 9 meses e 24 dias, ficando atrás apenas de Jan Lammers, que teve um intervalo de mais de 10 anos entre duas provas.
Giancarlo Fisichella, Scuderia Ferrari
Com Badoer falhando em pontuar nas duas provas que disputou, a Ferrari optou por substituí-lo por outro italiano: Giancarlo Fisichella, que havia subido ao pódio na Bélgica. Fisichella também falhou em somar pontos e ao fim do ano anunciou sua aposentadoria.
Felipe Massa, Scuderia Ferrari
Massa passou por uma cirurgia plástica para recuperar a área afetada pelo acidente e ficou com uma pequena cicatriz acima do olho esquerdo.
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