Em um fim de semana em que a Alpine anunciou a saída do chefe de equipe Otmar Szafnauer e do diretor esportivo Alan Permane como parte de uma reforma, o tetracampeão mundial de Fórmula 1, Alain Prost expressou sua consternação com o que aconteceu com a equipe.  

O francês, que foi conselheiro e diretor não executivo da equipe Renault/Alpine de 2015 a 2022, acredita que a fabricante francesa de carros esportivos cometeu um erro crítico ao permitir muita influência corporativa. 

"Adoro essa equipe e fico triste e angustiado ao vê-la em seu estado atual", disse ele em uma longa entrevista ao L'Equipe.  "Ela merece mais e tem tudo o que precisa para ter sucesso. Eu simplesmente acredito que você precisa confiar na história para entender o que deu errado."

"Se você observar as grandes histórias de sucesso dos últimos 30 anos, verá uma estrutura simples - diferente de um organograma industrial - construída em torno de três ou quatro personalidades fortes, juntamente com um piloto vencedor."   

Pierre Gasly, Alpine A523, Sergio Perez, Red Bull Racing RB19

Foto de: Andy Hone / Motorsport Images

Prost citou os exemplos de Jean Todt trabalhando com Ross Brawn e Michael Schumacher na Ferrari, a Mercedes tendo Toto Wolff, Niki Lauda e James Allison ao lado de Lewis Hamilton e Christian Horner e a aliança de Adrian Newey ajudando a dar títulos à Red Bull com Sebastian Vettel e Max Verstappen.  

Ele também disse que, em todas as ocasiões, as empresas também eram comandadas por CEOs que entendiam e apoiavam os esforços da equipe de F1 - algo que ele acha que está faltando muito na Renault.  

"Eles conheciam os códigos da F1 e tinham a agilidade e a flexibilidade necessárias para permitir que seu pessoal tomasse as decisões", disse ele. "A decisão da Red Bull de não fazer parceria com a Porsche, na verdade, decorre dessa recusa em ceder a essas decisões excessivamente pesadas da diretoria para pessoas que não conhecem a F1."

"Nos meus anos na Renault, quantas vezes ouvi nos corredores da sede em Boulogne-Billancourt que a F1 era um esporte simples que poderia ser administrado de casa pelos homens que estavam no local. Isso foi um grande erro, como ficou provado com o último dos diretores, Laurent Rossi, que Luca de Meo dispensou há uma semana."  

"Laurent Rossi é o melhor exemplo do efeito Dunning-Kruger, o de um gerente inepto que acha que pode superar sua incompetência com sua arrogância e sua falta de humanidade para com seu pessoal."

"Ele foi chefe da Alpine por 18 meses e achava que entendia tudo desde o início, mas isso não poderia estar mais longe da verdade. Sua gestão interrompeu o impulso que a equipe havia construído desde 2016, alcançando pódios e vitória."  

O efeito Dunning-Kruger está relacionado a quando a falta de conhecimento e habilidades de uma pessoa em uma determinada área faz com que ela superestime sua própria competência.  

Embora o diretor interino da equipe Alpine, Bruno Famin, esteja convencido de que a equipe tem um plano para alcançar o sucesso rapidamente na F1, Prost não está convencido.  

"Esperamos que a decisão que foi tomada na sexta-feira, com a substituição de outras pessoas, seja um choque para a equipe", disse ele. "Quando você olha para o sucesso da Renault, encontra um homem - Flavio Briatore - e um piloto lendário - Fernando Alonso - apoiados por uma equipe de gestão [Patrick Faure, Louis Schweitzer] que, na época, implementou essa filosofia de tomada de decisões rápidas por especialistas."

"É engraçado ver que os diretores da F1 são frequentemente convidados para conferências sobre gerenciamento por grandes empresas para falar sobre reatividade e flexibilidade. Raramente acontece o contrário... [de gerentes de empresas serem convidados para falar sobre a F1]."   

Reportagem adicional de Benjamin Vinel

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