Massa e Fittipaldi 'mandam a real' sobre jejum de pilotos do Brasil na F1 antes de Bortoleto
Desde 2018, o País espera um sucessor para seu último titular, com o líder da F2 pronto para encerrar a 'seca'. Por que demorou tanto? Kanaan também analisa
Na entrada do Autódromo de Interlagos, um slogan saudou os fãs que compareceram ao GP de São Paulo de 2024: "Nada supera essa emoção". Ao caminhar pelos túneis do circuito paulistano, o motivo fica evidente: a pista icônica no meio da agitada metrópole paulista é uma das catedrais mais reverenciadas do automobilismo, com suas arquibancadas antigas repletas de história no esporte a motor.
Memoriais de Ayrton Senna nas arquibancadas
Foto de: Andrew Ferraro / Motorsport Images
Os pôsteres de GPs do Brasil que revestiram os túneis de entrada remontam à corrida inaugural da Fórmula 1 no País, em 1972, lembrando as muitas decisões de títulos que Interlagos sediou e as vitórias em solo brasileiro que impulsionaram a popularidade de campeões mundiais lendários como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Naturalmente, Senna ainda é reverenciado como uma divindade, com seus bonés do Banco Nacional usados por multidões de torcedores apaixonados.
Um mural gigante do tricampeão mundial adorna o prédio principal do paddock, enquanto Sebastian Vettel viajou para o evento para fazer uma homenagem a Ayrton e Lewis Hamilton fez uma exibição emocionante na McLaren de 1990 de seu herói -- a "maior honra" de sua vida, segundo o piloto inglês.
Lewis Hamilton guia McLaren MP4/5B de Senna e levanta a bandeira do Brasil
Foto de: Andrew Ferraro / Motorsport Images
Falta alguma coisa?
Depois de uma longa sequência de brasileiros no grid, o último titular, Felipe Massa, ainda espera um sucessor após sua aposentadoria no final de 2017. A temporada 2018 foi a primeira em 48 anos sem um brasileiro, com o país voltando a ver um piloto em GPs só em 2020, quando Pietro Fittipaldi substituiu Romain Grosjean após o acidente do francês no GP do Bahrein, de modo que o brasileiro correu os GPs de Sakhir e Abu Dhabi pela Haas.
Então, nos últimos anos, os fãs da categoria no País não conseguiram transferir toda a sua energia e 'emoção' para um herói da casa, 'adotando' Hamilton como um dos seus -- o heptacampeão inclusive recebeu o título de cidadão honorário brasileiro em 2022.
O vazio do Brasil na F1 ficou ainda mais marcante neste fim de semana, quando milhares de argentinos foram a São Paulo para torcer por Franco Colapinto, da Williams. O GP deste ano no Brasil já estava com ingressos praticamente esgotados há tempos, e ainda assim os fãs de Colapinto conseguiram encontrar entradas no mercado de revenda para assistir ao piloto na corrida mais próxima que eles têm de uma prova em casa. Mas, agora, Gabriel Bortoleto está perto de ser anunciado pela Sauber para a F1 2025.
Brasil, por que tanta demora?
Felipe Massa, emocionado, bate orgulhosamente no peito a insígnia do Cavalo Empinado ao comemorar a vitória e uma temporada bem disputada diante de sua torcida.
Foto de: Rainer W. Schlegelmilch / Motorsport Images
Felipe Massa diz que uma fase difícil nas categorias de base é grande parte da explicação. "Infelizmente, muita demora para termos outro brasileiro na F1 e é muito difícil dizer o motivo", afirmou ele ao Motorsport.com.
"No passado recente, não tínhamos nenhuma categoria como a Fórmula 4 e talvez a base do Brasil não fosse tão forte em comparação com o passado mais distante. Quando eu estava correndo na Europa na Fórmula Renault, em todas as categorias tínhamos um brasileiro vencendo corridas, lutando por título. E agora é difícil ter os mesmos resultados que tínhamos no passado. Mas nos últimos três anos as coisas estão mudando. Temos alguns bons brasileiros por aqui e espero ver Bortoleto na F1 em breve", seguiu.
"O mais importante é que os jovens precisam ir para a Europa no momento certo, quando estiverem prontos, com alguma experiência aqui no Brasil. É por isso que o Brasil precisava ter uma boa categoria [de monopostos] e agora temos a F4 [que foi uma das categorias suporte no fim de semana da F1 em São Paulo em 2024]. Ela está se tornando mais competitiva ano a ano e isso é muito importante", destaca Massa.
Oscar Piastri, McLaren F1 Team, 2ª posição, Lando Norris, McLaren F1 Team, 1ª posição, Max Verstappen, Red Bull Racing, 3ª posição, recebem seus troféus Sprint de Emerson Fittipaldi
Foto de: Steven Tee / Motorsport Images
O bicampeão mundial de F1 Emerson Fittipaldi, que estava presente em sua corrida de casa como embaixador da McLaren, concordou com Massa que tudo começa na base. "A base, no kart, é muito importante", disse ao Motorsport.com. "A federação brasileira está atualmente incentivando o kart no Brasil. Tenho certeza de que novos talentos surgirão, mas faltou incentivo em nível de base no Brasil", ponderou.
"Quando você já está na F1, é fácil os patrocinadores aparecerem. Mas é muito difícil para os pilotos chegarem lá. Portanto, precisamos de mais apoio nas categorias de base e o novo presidente da confederação brasileira, Giovanni Guerra, está fazendo isso. Ele está fazendo um ótimo trabalho", segue.
"Mas, precisamos de ainda mais apoio. O maior exemplo disso é a Telmex [no México], e é por isso que temos Sergio Pérez [na F1]. Franco entrou agora, mas nos últimos cinco anos só tivemos um piloto da América Latina."
"Encontrar patrocinadores nunca foi fácil..."
O Brasil é a sétima maior economia do mundo em termos de PIB, mas também sofre com a enorme desigualdade e uma moeda relativamente volátil. Tudo isso já torna os custos do kart de nível básico um sério obstáculo para grande parte do grupo de talentos. E o câmbio não está ajudando os patrocinadores brasileiros a financiar pilotos quando eles começam a competir no exterior e chegam perto da F1 ou até da IndyCar.
"Encontrar patrocinadores nunca foi fácil para os brasileiros. Na minha época, era muito difícil encontrar patrocinadores, mas também era um pouco mais barato do que é agora, o que pode tornar a situação ainda mais difícil", diz Massa, vice-campeão de 2008 com a Ferrari.
A Indy, por sua vez, tem visto um vazio brasileiro semelhante se comparada à F1, após ter a geração bem-sucedida de Helio Castroneves, Gil de Ferran e Tony Kanaan, que juntos têm seis vitórias nas 500 Milhas de Indianápolis. O espaço começa a ser tomado agora, com Pietro Fittipaldi no grid de 2024 com a equipe Rahal -- aliás, seu irmão mais novo, Enzo Fittipaldi, testará com a Arrow McLaren no fim do ano.
Para Kanaan, o aspecto econômico pesa. "A moeda, o câmbio entre o dólar e o real, é muito ruim para conseguir que os patrocinadores invistam. É seis para um, portanto, se você tiver que investir um milhão de dólares americanos, serão seis milhões de reais. Isso definitivamente não está ajudando", destacou.
"O cenário do automobilismo brasileiro é saudável, com certeza, desde o Massa isso é muito reconhecido, mas obviamente está faltando um piloto de F1 no momento. Ainda temos alguns na Indy, mas, além da economia, você também precisa estar no lugar certo na hora certa para poder ser competitivo e vencer."
Gabriel Bortoleto, Invicta Racing
Foto de: Invicta Virtuosi Racing
Kanaan segue: "Temos alguns caras bons, como o Felipe Drugovich (campeão da F2 em 2022 e reserva da Aston Martin F1), que está esperando há muito tempo, e o Bortoleto agora, mas o momento tem sido ruim."
Kanaan acha pouco realista esperar que os dias de títulos do Brasil na F1 retornem em breve, mas ele ainda está otimista quanto ao futuro de longo prazo nas corridas internacionais. "Acho que nunca mais teremos um Senna, da mesma forma que acho que [a Alemanha] nunca mais terá um Michael Schumacher, e da mesma forma que não se encontrará outro Lewis Hamilton ou Max Verstappen", ponderou.
"Mas, eventualmente, acho que voltaremos. O esporte a motor ainda é extremamente popular no Brasil. Não apenas a F1, mas também a Indy", afirmou. Tony, Massa e Fittipaldi ficaram todos impressionados com Bortoleto, que está bem posicionado para finalmente devolver a bandeira brasileira ao grid de largada, estando na iminência de ser anunciado na Sauber. "Espero que ele entre na F1", disse Fittipaldi. "Estamos torcendo por ele. Ele é muito talentoso e muito capaz, um excelente piloto."
Massa acrescentou: "Gabriel fez um trabalho incrível vencendo a F3 no primeiro ano e talvez vencendo a F2 no primeiro ano. Isso é definitivamente algo que não temos visto ultimamente com um brasileiro. Será muito positivo ter um brasileiro forte na F1 por um longo tempo, levantando a bandeira brasileira. Estou torcendo muito por ele". Encontrar uma maneira de ter os dois países sul-americanos representados no grid seria um impulso para a F1 em geral, com Colapinto sendo especulado em vagas na Red Bull e RB.
Mas o mais importante é que isso completará a peça que faltava no quebra-cabeça para levar a "emoção" de um de seus principais eventos a um nível ainda mais alto.
Reportagem adicional de Joey Barnes
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